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sábado, 2 de julho de 2011

De Recife, Lua Cambará faz duas apresentações no SESC Pinheiros

Baseado em conto do escritor Ronaldo Correia de Brito, com música de Antonio Madureira. SESC Pinheiros apresenta Lua Cambará, um espetáculo criado pela oscip Aria Social

Idealizado pelo Aria Social - espaço de dança e arte, Lua Cambará espetáculo criado a partir do texto do premiado escritor que, entre outras editoras, publica pela Cosac Naify, Ronaldo Correia Brito, será apresentado aqui dias 9 e 10 de julho. No palco, sob direção geral da bailarina Cecília Brennand, o elenco de 46 bailarinos e 6 instrumentistas interpreta a lenda do sertão cearence. A Oscip Aria Social atende crianças e jovens de comunidades de baixa renda de Recife e Jaboatão dos Guararapes.

Baseado em texto do escritor Ronaldo Correia de Brito, música de Antônio Madureira, do Quinteto Armorial (referência na década de 70 na mescla da música nordestina com a clássica) e idealização da associação Aria Social (Oscip que desenvolve oficinas de educação continuada e formação social e artística na região metropolitana do Recife), Lua Cambará chega a São Paulo nos dias 9 e 10 de julho, sábado e domingo, no Teatro Paulo Autran do SESC Pinheiros.

Com direção geral da bailarina Cecília Brennand, coreografia e direção artística de Ana Emília Freire e Carla Machado e letras de Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima, o espetáculo une música, teatro e dança para contar a lenda cearence de Lua, moça mestiça que se apaixona por um de seus capatazes e acaba amaldiçoada, vagando no além.

Lenda do sertão cearense, Lua Cambará foi transformada em conto pelo escritor Ronaldo Correia de Brito ainda na década de 70, posteriormente lançado em livro pela editora Cosac Naify. Foi seu pai quem lhe apresentou a história da mulher que vagava feito alma penada, segundo o imaginário poupular, e que foi responsável pela desgraça de muitas famílias. “Lua Cambará podia ser vista nas escuras noites sertanejas. Meu pai disse que viu”, lembra Ronaldo.

Para o escritor, a protagonista Lua Cambará pode ser comparada a Medeia – personagem da mitologia grega, conhecida por seu rancor e sentimentos cruéis. Segundo Brito, o mito do corpo seco está presente na história. “Corpo seco é a mulher estéril, que não reproduz e se transforma em assombração”, comenta o escritor.

Sinopse
Filha mestiça de um coronel branco e de uma escrava, a personagem central da trama nega sua raça. Lua persegue e maltrata sua gente, espalhando ódio e destruição. Negada pelo pai desde o nascimento, a protagonista herda sua fortuna e tem que lutar contra o resto da família para ficar com as terras e os bens.

Sempre acompanhada por dois homens, um capataz e um vaqueiro, Lua se apaixona por aquele que é casado e liberto. Ela ordena que o seu capataz mate a esposa do vaqueiro. Contudo, o empregado que foi designado para a tarefa gosta de Lua e, por ciúme, assassina seu companheiro de trabalho. Enfurecida, a viúva do matador roga uma praga para Lua Cambará: mesmo após a morte ela nunca encontrará descanso; seu corpo vagará sem pouso entre o céu, a terra e o inferno.

A montagem
O espetáculo – criado e produzido pelo Aria Social – traz 46 jovens bailarinos, entre 14 e 30 anos, que integram o corpo de balé da instituição. Lua Cambará, a personagem título, é vivida por sete bailarinas, dirigidas pelas coreógrafas Ana Emília Freire e Carla Machado. Responsáveis pela coreografia e direção artística, Carla e Ana Emília contam que o espetáculo é baseado em sensações. “Foram mais de 2 meses de mergulho e estudos sobre as sensações primitivas do ser humano para chegar à criação”, conta Ana Emília. “Escutar a trilha original e, a partir dela, criar os movimentos foi um pedido de Ronaldo”, acrescenta Carla.

Calcada na narrativa, a montagem anterior seguia um caminho diferente da atual. Hoje, a peça já começa densa e dramática. “O espetáculo retoma a natureza primordial do teatro grego, com coro e protagonistas. No palco, os jovens artistas atuam, dançam e cantam", afirma Ronaldo Correia de Brito. Para contar essa trajetória de amor, vingança e morte, Antônio Madureira, reconhecido músico pernambucano, compôs dez músicas. Para ele, o espetáculo é ritualístico e isso pode ser notado logo de cara. “Na abertura, uma flauta soa sozinha, como um longo grito de Lua, vagando entre o céu e a terra, entre a vida e a morte. O som dela aparece como uma premonição da desgraça, inspirado no formato das tragédias gregas”, completa Madureira.

Na trilha sonora de Lua Cambará, Antônio Madureira mesclou música nordestina e clássica, continuando um trabalho de pesquisa que desenvolve desde a década de 70, quando, em parceria com Ariano Suassuna, fundou o Quinteto Armorial. “Com vozes, teclados, flauta transversal, violão, alfaia, congas, berimbau e instrumentos percussivos de efeito, a composição é calcada na escala musical crescente”, afirma o musicista.

“Cada trecho composto por Antônio tem uma explicação que faz da trilha, de fato, a obra musicada”, explica Ronaldo. “Usei alguns jogos para motivação da criação. A presença do coro soma com tudo isso e mostra uma força muito grande”, conta Madureira. A equipe responsável pela execução da trilha sonora nos palcos é composta por seis músicos. Sob coordenação de Rosemary Oliveira, eles comentam que no começo da montagem não tinham as partituras para tocar as músicas do espetáculo. Não tiveram dúvidas: colocaram seus ouvidos de músicos para funcionar e foram tirando acorde por acorde, aproximando-se o máximo possível da trilha original. Rosemary está no Aria desde 2004 e se orgulha de ter criado o coro da instituição.

O figurino e o cenário foram elaborados pela artista plástica pernambucana Beth Gaudêncio. Com foco no número de bailarinos e na troca de personagens que acontece entre eles, ela criou peças versáteis, que se transformam ao longo do espetáculo com o auxílio de adereços. A concepção de luz e operação é de Saulo Uchôa, que acompanhou o trabalho desde a fase de laboratório, dialogando com as coreógrafas para criar a atmosfera de cada cena. “A luz funciona como um complemento do cenário, pois valoriza figurinos e coreografias’, conta Deborah Priston, coordenadora geral do Aria Social.


Cronologia Lua Cambará
Em 1970, Ronaldo Correia de Brito escreveu a primeira versão de Lua Cambará, na forma de conto. Em 1975, com base no conto, a história foi transformada em roteiro de cinema, por seu autor, ao lado de Assis Lima. Entre 1975 e 1977, com direção de Horácio Carelli e Ronaldo Correia de Brito, Lua Cambará foi filmado na bitola super 8, com Avelina Brandão no papel-título. Em 1977, Lua Cambará estreou no cinema, com música de Antonio Madureira, gravada pela orquestra Romançal. Começa a parceria entre Antonio Madureira, Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima. Uma versão em vídeo do filem, foi veiculada na televisão a partir de 1978.

A versão musical de Lua Cambará foi gravada em disco por Madureira, Assis Lima e Ronaldo em 1990. No mesmo ano, a Produtora Sopro-de-Zéfiro encenou a ópera balé Lua Cambará, com coreografia de Zdenek Hampel, Cecília Brennand no papel-título e corpo de bailarinos formado por Maria Eduarda Gusmão, Beth Gaudêncio, Mônica Barroso, Valéria Medeiros, Márcia Rocha, Adriana Farias, Luis Roberto, Robson Duarte, Tony Luz e atuação de Rubem Rocha Filho. Nessa montagem, Beth Gaudêncio assinou os figurinos e pintou uma série de quadros inspirados no espetáculo.

Em 1991, o espetáculo foi filmado para TV por Marcelo Pinheiro e Lírio Ferreira. Em 2001, Rozemberg Cariry filmou Lua Cambará na bitola 35mm, com Dira Paes e Chico Dias nos papeis principais. Em 2003, Ronaldo Correia de Brito reescreveu o conto Lua Cambará e editou no livro Faca, pela Cosac&Naify. Em 2010, uma nova encenação do espetáculo musical, com música ao vivo, por professores e alunos do Aria Social, comemora os 20 anos do espetáculo. Esta turnê sudeste, inédita para o grupo, está sendo patrocinada pela Transpetro, Price, Queiroz Galvão, Duty Free, Copacabana Palace e Ministério da Cultura

Sobre o Ária Social
Com a intenção de colaborar no desenvolvimento de crianças e jovens em situação de risco, baixa renda e vulnerabilidade social da região metropolitana do Recife (Ipsep, Ibura, Muribeca, Marcos Freire, Prazeres, Cajueiro Seco e Jardim Piedade, entre outras), a bailarina Cecília Brennand criou e organizou, em 2004, o Aria Social. Sem fins lucrativos, a associação tem como foco a formação artística continuada e oferece aulas sistemáticas de dança, música, percussão e capoeira, mantendo uma média de atendimento anual de aproximadamente 450 alunos. “Atividades complementares também são oferecidas com o objetivo de fortalecer o desenvolvimento escolar formal. Oficinas de ‘contação’ de histórias, produção de texto, literatura e poesia despertam o interesse e o prazer pela leitura e escrita, ao passo que nas aulas de informática podemos trabalham também a inclusão digital”, conta Deborah Priston.

O projeto Aria Social conta com o patrocínio de grandes empresas e instituições como Itaú BBA, Chesf, Instituto Votorantim e Fiori Veículo, fundamentais para a continuidade do projeto, além da parceria da Celpe, Instituto Ayrton Senna, Projeto Casa da Criança, Ampla e Rede Globo Nordeste. A cada ano, a bailarina Cecília trabalha no sentido de prospectar novos apoiadores para que o Aria possa prosseguir com suas atividades.

Habituada ao processo criativo da encenação e do dia-a-dia dos jovens, a proposta de Cecília Brennand é acompanhar o aluno pelo maior tempo possível. “É importante dizer que, como somos um projeto de formação continuada, não existe uma rotatividade muito intensa. Nosso objetivo é acompanhar o aluno pelo maior tempo possível, quer seja para a formação profissional artística, quer seja com foco na transformação humana e encaminhamento sócio/familiar”, afirma.

A faixa etária para ingresso no projeto Aria Social é de 8 a 18 anos, e a meta de acompanhamento é até os 25. A disputa para ingressar no Aria é alta. Além das atividades artísticas e complementares, os alunos recebem, também, benefícios como transporte, alimentação, uniforme e todo material artístico necessário para o desenvolvimento de suas habilidades. “O propulsor da ideia foi o desejo e a necessidade de democratizar a arte pelo que ela tem de força transformadora, de potencial educativo, de anteparo ao fortalecimento da auto-estima e de criatividade”, comenta Cecília.

Ficha técnica: LUA CAMBARÁ – Direção Geral: Cecilia Brennand. Coordenação Geral: Deborah Priston. Coreografia e Direção artística: Ana Emília Freire e Carla Machado. Texto: Ronaldo Correia de Brito. Música: Antonio Madureira. Letra: Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima. Direção Musical e Regência: Rosemary Oliveira. Violão: Rosemary Oliveira. Teclados: Rosemary Oliveira e Isabela dos Santos . Flauta: Adriana Nascimento. Percussão: Charly Jadson, Davidson Oliveira, Manoel Júnior. Criação de figurino: Beth Gaudêncio. Criação e execução do cenário: Beth Gaudêncio. Técnica de som: Isabel de Brito. Iluminação: Saulo Uchôa. Programação visual: Carlota Agência de Comunicação. Agência de Comunicação: Arte Plural. Produção Geral: Sopro-de-Zéfiro.

Serviço: SESC Pinheiros apresenta Lua Cambará – Dias 9, às 21h, e 10, às 18h, de julho – Teatro Paulo Autran, SESC Pinheiros. 1010 lugares. Classificação indicativa: 14 anos. Rua Paes Leme, 195. Telefone (11) 3095-9400. Ingressos – R$ 10,00 (inteira), R$ 5,00 (usuário matriculado no SESC e dependentes, +60 anos, professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante), R$ 2,50 (trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes).





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