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sábado, 15 de setembro de 2012

Mostra Strindberg mapeia universo do dramaturgo sueco em seu centenário de morte


De 18 de setembro a 27 de outubro, programação especial em homenagem ao autor reúne 8 espetáculos teatrais, exposição, duas exibições em vídeo, 6 leituras dramáticas e 4 debates. Eduardo Tolentino, Nelson Baskerville e Christiane Jatahy, entre outros, dirigem peças. Zé Henrique de Paula, Alexandre Tenório e Luiz Fernando Marques, do Grupo XIX e Felipe Vidal ficam responsáveis pelas leiturasOs eventos acontecem nas unidades do SESC do Belenzinho, Bom Retiro, Ipiranga e Santo Amaro. A curadoria é de Nicole Cordery e Flavio Barollo


No centenário de morte do dramaturgo sueco August Strindberg (1849-1912), um dos maiores nomes da dramaturgia mundial, aMostra Strindberg disseca a vida e obra desse ícone teatral. De 18 de setembro a 27 de outubro, uma programação especial em homenagem ao autor acontece nas unidades do SESC do BelenzinhoBom RetiroIpiranga e Santo Amaro. São espetáculos teatrais (4 montagens inéditas, 3 reestreias e um work in progress), vivência, uma exposição, 6 leituras dramáticas e 4 debates com mediação de Denise Weinberg. A curadoria é de Nicole Cordery (mestre em Strindberg na Sorbonne Nouvelle em Paris com orientação do teórico e dramaturgo francês Jean Pierre Sarrazac) e Flavio Barollo, ator e produtor da Cia Mamba.

Dos palcos cariocas chega Julia, uma adaptação de Senhorita Julia. Christiane Jatahy venceu o Prêmio Shell na categoria de Melhor direção pelo espetáculo. Três montagens foram feitas especialmente para a Mostra: A Mais Forte, com direção de Eduardo Tolentino (peça curta de 15 minutos de Strindberg); O Livro da Grande Desordem e da Infinita Coerência, de Andre Guerreiro (montagem que une fragmentos da peça O Sonho e do romance autobiográfico Inferno).

A terceira é A Noite das Tríbades, de Per Olov Enquist, mais uma produção do Grupo Tapa com a coordenação de Tolentino que visa formar novos diretores como é o caso de Malu Bazan, responsável pela encenação. Na peça, Strindberg é colocado como um personagem. O autor e sua mulher Siri Von Essen tentam ensaiar A Mais Forte em um teatro decadente de Copenhague.

As reestreias ficam por conta de Credores do Grupo Tapa, com direção de Eduardo Tolentino (um casal tem um relacionamento abalado com a chegada de um estranho); Brincando com Fogo, dirigido por Nelson Baskerville (uma comédia do autor, que questiona o casamento convencional); Strindbergman, de Marie Duplex (trama que propõe um diálogo entre a peça A Mais Forte e o filme Persona de Ingmar Bergman). Após a mostra, a montagem fará uma temporada de 2 de novembro a 16 de dezembro no Viga Espaço Cênico. Baskerville também apresenta work in progress de uma versão de Credores, que estreia ainda esse ano.

Outras obras de Strindberg podem ser conferidas em leituras dramáticas como After Miss Julie, dirigida por Zé Henrique de Paula;Cristinapor Felipe Vidal; O Sonhocom direção do  Uzyna Uzona (antigo Oficina); Dança da Morte, por Alexandre Tenório;Rumo a Damasco, por Luiz Fernando Marques, do Grupo XIX, e Crimes e Crimes, por Eduardo Tolentino de Araújo, do Grupo Tapa.

Durante duas semanas, uma Vivência aberta para o público em geral terá como foco uma discussão de como a obra e o universo de Strindberg atingem o ser humano, especialmente com o espetáculo O Sonho. A atividade tem a participação do ator Andre Garolli e a diretora sueca Bim de Verdier que vem para o Brasil exclusivamente para o evento. A exposição de Julio Dojcsar terá 8 escrivaninhas que contarão  a vida do dramaturgo a partir de suas obras mais importantes.

Strindberg é considerado o pai do teatro moderno. Viveu numa época de efervescência. Presenciou momentos importantes, como o surgimento da psicanálise de Sigmund Freud, a eclosão dos movimentos socialistas. Um período de revoluções que ele incorporou em suas obras. Inseriu quebras de tempo e espaço na narrativa de suas peças, elementos que mudaram a maneira de fazer teatro, além de ter criado tramas que mergulham diretamente nas relações humanas.

“É uma oportunidade de conhecer não só o teatro de Strindberg. A mostra tem uma visão plural, procura entender o pensamento, discutir ideias desse dramaturgo que ainda permanecem vivas nos tempos atuais. A programação estará espalhada pela cidade de São Paulo e pretende contemplar vários públicos”, conta Nicole Cordery.

Palcos e Cinema

A programação conta com duas exibições de vídeos raros. O primeiro é O Sonho de Ingmar Bergman, uma adaptação da montagem para a TV em 1963 com Ingrid Thulin no papel de Agnes. Essa é a primeira vez em que o filme será apresentado fora da Suécia.

Strindberg é uma das maiores influências do cineasta Ingmar Bergman (1918-2007). Mesmo sendo ser reconhecido por seus clássicos nas telonas, Bergman montou praticamente toda a obra do seu conterrâneo sueco nos palcos. O Sonho ganhou quatro versões diferentes no teatro pelo diretor. Morangos Silvestres é inspirado na peça Rumo a Damasco, onde o protagonista passa por uma jornada que o faz refletir sobre a vida. A peça A Mais Forte inspirou o filme Persona. Além da questão formal onde uma mulher fala o tempo todo impulsionada pelo silêncio da outra, existe o cruzamento de elementos temáticos, como a maternidade, o mundo do teatro, o riso e a possessão de personalidade entre dois personagens.
Ambos procuravam captar a vida com as dúvidas, medos, esperanças, ou seja, os dilemas do ser humano. “Bergman se inspirava no autor para criar uma obra nova. A influência de Strindberg funcionava como um espelho, um demônio que o perseguia e o impulsionava”, afirma a curadora.

O segundo vídeo é Senhorita Julia, filmagem da peça com a direção de Thomas Ostermeier que esteve em temporada esse ano no Theatre of Nations de Moscou.

 

Legado

Eduardo Tolentino falou da importância da mostra e do dramaturgo. “Ele instaurou uma grande revolução no teatro no século 19 por meio de seus procedimentos, formas e conteúdo. Suas histórias não são definidas com causa e consequência, nem tudo é explicado, o diferencial é a abertura para a margem de interpretação, essa é a sua modernidade. Não importa se a peça ganhar inúmeras montagens, cada uma terá sua peculiaridade. A Mostra Strindberg é uma chance de dar mais notoriedade para esse dramaturgo que é pouco conhecido no Brasil, revelar a magnitude de sua obra”. Além de uma adaptação de Pária para televisão, o diretor já se aventurou pelo universo do autor nas montagens Camaradagem, Credores e A Mais Forte.

O curador Flavio Barollo também estará nos palcos com dois espetáculos: Brincando com Fogo (duas temporadas em 2012, além de Festival de Estocolmo – Stoff) e Credores, montagem que ganhará um processo de "work in progress" dentro da Mostra Strindberg no SESC Ipiranga antes de estrear. Ambos trabalhos da Cia. Mamba, que já encenou O Pelicano, direção de Denise Weinberg (três temporadas em 2009 e 2010). “O que nos atrai em Strindberg é sua forma nua e crua de tocar em questões humanas de modo direto, sem rodeios e intensamente. Ele consegue mergulhar fundo em assuntos que dificilmente encontramos em textos contemporâneos. São obras que trabalham com amor, tesão, sexo, casamento, atuam no universo do sonho, da espiritualidade, temas que nos fazem refletir sobre nossas vidas.”

Strindberg foi o primeiro autor a colocar sua própria vida nas peças, a chamada dramaturgia do eu. Chegou a declarar que nós não podemos conhecer plenamente a vida de outros personagens, pois só temos conhecimento de nós mesmos; só assim para alcançar todos os detalhes e profundezas de uma alma. Iniciou o chamado drama de estações, onde uma cena não necessariamente precisava ter conexão direta com a anterior, trabalhando pela primeira vez de forma épica com cenas isoladas, e todas em torno da história de um personagem, geralmente o seu alter-ego, como em Rumo a Damasco. Strindberg flertou com o simbolismo e o expressionismo. Quebrou paradigmas e padrões da dramaturgia da época, fonte de inspiração para a modernidade, como a do próprio Nelson Rodrigues.

Em pleno século 21, as histórias do dramaturgo continuam sendo montadas pelo mundo e gerando discussões com suas ideais pulsantes. “Strindberg foi casado inúmeras vezes, considerado misógino, o que ainda causa debates. Soube como poucos abordar as fragilidades humanas, a manipulação sobre o outro, questões envolvendo o poder feminino. As peças são um verdadeiro embate cerebral, uma disputa de quem é o mais forte”, finaliza Nicole Cordery.

Sobre o autor
August Strindberg (1849/1912), sueco, nascido em Estocolmo, é conhecido mundialmente como escritor, ensaísta e dramaturgo. Foi isso e muito mais: jornalista, crítico social, profundamente interessado tanto na ciência (química, medicina, ciências políticas) quanto no ocultismo e na estética. É um dos mais importantes dramaturgos da história, ao lado de Henrik Ibsen e Anton Tchecov. Homem de letras, novelista, poeta, pintor, idealizador do “teatro íntimo”, que funcionou de 1907 a 1910, escreveu a maior parte dos dramas intimistas quase sempre referidos ao casal, ao casamento como armadilha, explorando ao infinito as contradições e ambivalências entre o pensar, o sentir e o agir.  

Com suas obras em prosa e seus dramas, foi o precursor do naturalismo na Suécia e, ao mesmo tempo, o grande destaque do expressionismo e do surrealismo no mundo. Em suas peças autobiográficas, recriou ainda a sua problemática pessoal: três fracassos matrimoniais, solidão e abatimento espiritual. As suas obras impregnadas pela tristeza, “O Pai” (1887) e “Senhorita Júlia” (1888), assim como as peças “Páscoa” e “A Dança da Morte” (ambas de 1891), ilustram esses conflitos. “O Pelicano”, “Sonata dos Espectros”, “Casa Queimada” e “A Tempestade” (de 1907) já assinalam o caminho para o simbolismo. Após ter passado um longo período na França, na Suíça, na Alemanha e na Dinamarca, Strindberg regressou a Estocolmo em 1899, onde fundou, em 1907, o Teatro Íntimo. Morreu em 1912, de câncer no estômago, deixando romances autobiográficos, peças teatrais, poesia, pintura e ensaios sobre os mais diversos assuntos.

Programação Completa da Mostra Strindberg


Work in progress

Credores
Dias 18 e 25 de setembro e 9, 16 e 23 de outubro, no SESC Ipiranga
Terças-feiras, às 20 horas

Criação coletiva inspirada na obra homônima de Strindberg com direção de Nelson Baskerville . Será compartilhado com o público um "work in progress", a fim de definir uma nova dramaturgia para a peça, buscando a resposta para a pergunta: "como se relacionar nos dias de hoje?". Os ensaios abertos serão feitos às terças-feiras, afinando o espetáculo para sua estreia oficial ao final da Mostra. Com Carolina Mânica, Bruno Perillo, Flavio Barollo e Isa Bela Alzira.Iluminação: Aline Santini
Direção Técnica: Igor Sane. Direção de Produção: Carla Estefan.

SESC IPIRANGA - Rua Bom Pastor, 822 Ipiranga – Tel: 3340-2000. Local – Teatro. Capacidade – 200 lugares. Classificação – 14 anos. Duração - 70 minutos. Aberto ao público em geral. Grátis - Retirada de ingressos 1 hora antes na bilheteria.

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