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sábado, 15 de setembro de 2012

Espetáculo Sobre o Desejo, dirigido por André Corrêa é inspirado em obra do iluminista Denis Diderot


Encenação de O Filho Natural, trabalho dramatúrgico do filósofo e escritor
 iluminista Denis Diderot ganha toques contemporâneos na montagem da Cia Vanilla
 com direção de André Corrêa

Após a estreia como diretor no espetáculo Passional – em que a obra do escritor João do Rio foi adaptada para a linguagem teatral – , o ator André Corrêa parte para seu segundo trabalho de direção em Sobre o Desejo, espetáculo que mescla parte da obra O Filho Natural, do escritor e filósofo iluminista Denis Diderot (1713/1784), com textos inéditos construídos pelos atores daCompanhia Teatro Vanilla. O espetáculo estreia dia 22 de setembro, sábado, às 21 horas, no Teatro Coletivo.

O elenco é composto pelos atores Ana Paula Faria, André Moss, Elohá Bartijoto, Flávia Mariotto, Guilherme Mazzei, Juliana Garcia, Julio César Gomes, Luiz Felipe Bianchini, Nicole Fischer, Renata Sarmento, Renato Velloni e Vinicius Lopes.

O drama burguês do escritor francês é contado em 5 partes intercaladas por cenas curtas criadas pelos atores. A peça propõe uma reflexão sobre o desejo com diversas abordagens. “Partimos do Filho Natural para criar textos que falassem sobre o desejo em conflito com uma questão moral. Durante a pesquisa, os atores criaram situações transportando sentimentos como ciúme, amor, ambição, ódio e inveja ao contexto social contemporâneo”, explica o diretor.

O texto de Diderot narra a paixão incontrolável de Dorval por Rosali, futura esposa de seu melhor amigo, Clairville – cuja irmã, por sua vez, é apaixonada por Dorval – em uma análise precisa do drama burguês e das impossibilidades morais de realização do aspecto socio-emocional da vida humana. “A obra de Diderot foi a nossa fonte de inspiração. Por meio de estudos e debates sobre a vida e obra desse autor, criamos cenas que tratam do tema desejo na contemporaneidade”, afirma o ator Vinicius Lopes.  

Sobre a encenação

encenação busca um diálogo entre o sistema de Stanislavski, no que diz respeito à preparação do ator e à interpretação naturalista, e o teatro Épico desenvolvido por Brecht, em relação ao conceito estético da cena. O ponto de vista assumido pelo ator é o de dois horizontes de consciência: o dele, ator/narrador, e o do personagem. O tema desejo é o fio condutor, já que também foi um ponto determinante em toda obra do autor francês.

O grupo estabelece um diálogo entre o teatro contemporâneo e o clássico. André Corrêa adaptou o texto de Diderot mantendo esse contraste. “Quando representam as cenas contemporâneas, os atores ficam o tempo todo no palco, observando a peça. A troca de figurino é aberta, acontece em cena, e é feita pelos próprios atores.  Já quando encenam O Filho Natural, não assistem às cenas, pois representam, dentro da estrutura de encenação, o drama clássico e realista. Dessa forma buscamos realizar um trabalho em que o drama clássico e o teatro épico dividem o palco”, conta o diretor.

O cenário é minimalista e conta com uma instalação do artista plástico Antônio Hélio Cabral. Painéis com a imagem de dois corpos entrelaçados se desdobram permitindo ângulos e ampliações.  O figurino realça as diferenças e a transposição do clássico para o contemporâneo. Roupas neutras são a base dos atores quando representam as cenas contemporâneas, que recebem a adição de adereços e servem para a composição de vários personagens, inspirado no teatro épico. Já quem interpreta no clássico, veste figurinos completos e com características realistas.

Uma comédia séria

Um dos precursores do iluminismo e do pensamento moderno no ocidente, o filósofo e escritor francês Denis Diderot nasceu no século XVIII e articulou sua forte formação humanística nos 16 anos em que editou a Enciclopédia ou Dicionário Lógico das Ciências, Artes e Ofícios, sua obra-prima que, ao lado de pensadores da época, como Rousseau e Voltaire, organizou a produção de conhecimento da civilização até então e forneceu as bases teóricas para a Revolução Francesa.

O autor foi um dos poucos que se aventurou pela literatura e crítica de arte, produzindo a peça O Filho Natural, que chamou de uma “comédia séria”, um novo gênero entre o cômico e o trágico, projetado para fazer rir e causar reflexões.

“A trama de O Filho Natural é universal. Os personagens principais vivem conflitos intensos e dramáticos, porém, as situações em que se inserem e como a história caminha, juntamente com os personagens secundários, levam a um lugar cômico. Diderot dizia que essa peça buscava o riso, mas também a reflexão. É isso que procuramos fazer com nosso espetáculo”, completa.

Sobre André Corrêa
Começou a carreira em 1993 como ator, no CPT (Centro de Pesquisa Teatral), dirigido por Antunes Filho, com quem fez "Trono de Sangue/Macbeth", de Willian Shakespeare. Em seguida, trabalhou com José Celso Martinez Corrêa em "Hamlet", também de Shakespeare. Depois disso, começou a trabalhar com Antônio Abujamra, com quem fez inúmeros espetáculos, entre eles: "O Casamento", de Nelson Rodrigues; "A Resistível Ascensão de Arturo Ui", de Bertolt Brecht; "Essa Noite Se Improvisa", de Luigi Pirandello; "O Que Leva Bofetadas", de Leonid Andreiev; "Tchekhov e a Humanidade", de Anton Tchekhov e "O Escrivão", de Hermman Melville. Dividiu o palco com Abujamra na peça "O Grande Regresso de Paulo Sérgio Cortez", de Serge Kribuz e fez Assistência de Direção para o diretor em "Gertrude Stein", de Alcides Nogueira e em "Mephistópheles", de Goethe. Ainda no teatro, também trabalhou com os diretores Mauro Mendonça Filho (“Deus", de Woody Allen), Willian Pereira ("Romeu e Julieta", de Shakespeare), Roberto Lage ("A Mandrágora", de Maquiavel), Samir Yasbek ("O Fingidor", do próprio Yasbek), Marco Antônio Rodrigues ("História de Dois Amores", de Carlos Drummond de Andrade) e João Fonseca (“Timon de Atenas” e “Tróilo e Créssida”, de Shakespeare). Na televisão, atuou em mais de 100 filmes publicitários para empresas como "Itaú", "Net", "Nestlé", "Coca-Cola", "Volkswagen" e "Folha de São Paulo", tendo trabalhado ao lado de diretores como Cláudio Torres, Breno Silveira, Andrucha Waddington, Flávia Moraes, João Daniel, Tadeu Jangle, entre outros. Na Rede Globo, atuou nas novelas "O Profeta", "Pé Na Jaca", "Zazá", "Suave Veneno", "Filhas da Mãe", "Torre de Babel", "O Amor está no Ar" e nas minisséries "Um Só Coração", "Labirinto" e "Hilda Furacão".

Em 2008, protagonizou o espetáculo “Os Possessos”, baseado no romance “Os Demônios”, de Dostoiévski, com direção de Antônio Abujamra. Em 2009, atuou ao lado de Julia Lemmertz e Lígia Cortez em “Maria Stuart”. No ano de 2010 atuou no especial “Por toda minha vida”, sobre Cartola, no papel de Stanislaw Ponte Preta, e na microssérie “Dalva e Herivelto”, no papel de César Ladeira. Em 2011, atuou na trilogia “Enquanto Isso...”, de Alan Aykbourn, no Teatro Folha, e protagonizou o telefilme “A Teu Lado Leve”, com direção de Flávia Moraes, dentro do projeto “Fronteiras”, do canal TNT e coordenado pelo renomado cineasta argentino Juan José Campanella, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro por “O Segredo dos seus Olhos”.

Trabalha há 13 anos como professor de interpretação e montagem no “INDAC- Instituto de Arte e Ciência” e há 4 anos na Escola de Teatro e Faculdade de Artes “Célia Helena”. Em 2012, concluiu o curso de pós-graduação em Direção Teatral também pela Escola Superior de Artes “Célia Helena”, tendo como professores Antônio Araújo, Marcio Aurelio, Renato Borghi, Cida Moreira, Samir Yasbek, Marco Antônio Rodrigues, Giuliana Simões, Flávio Desgranges, entre outros. Iniciou, neste ano, sua carreira como diretor profissional com o espetáculo “Passional”. “Sobre o Desejo” é sua segunda direção teatral.

Sobre Denis Diderot
Denis Diderot nasceu em Langres, na França, no dia 5 de outubro de 1713 e, educado num colégio de jesuítas, recebeu sólida instrução humanística. Em 1732, instalou-se em Paris, onde se dedicou à direção editorial da "Enciclopédia ou Dicionário Lógico das Ciências, Artes e Ofícios", obra gigantesca que preparou ideologicamente a Revolução Francesa. Essa tarefa o absorvera durante 16 anos. Sua filosofia foi a primeira a ser elaborada com base em dados fornecidos pelas ciências exatas, numa espécie de materialismo científico. Meditando sobre as descobertas dos sábios de sua época, Diderot chegou a conclusões realmente geniais, tendo pressentindo as teorias da evolução e a constituição celular dos seres vivos.

Ao lado de Rousseau e Voltaire, seus colaboradores na confecção da Enciclopédia, Diderot também fez suas incursões no teatro. Quando escreveu “O Filho Natural”, deu à peça a classificação de “comédia séria”, um estilo que, segundo o autor, estaria situado entre a tragédia e a comédia. Nela, Diderot dizia que buscava o riso e também a reflexão. O texto é um representante do Iluminismo do século XVIII, e antecipou, com a visão de seu gênio, não só as entregas novelescas do drama burguês, mas também a toda tendência que levou o teatro para o palco da modernidade.

Serviço:

SOBRE O DESEJO – Estreia dia 22 de setembro, sábado, às 21 horas, no Teatro Coletivo.
Temporada: sábados às 21 horas, e domingos às 20h. Até 11 de novembro. Texto: Denis Diderot e elenco. Direção e dramaturgia: André Corrêa.Iluminação: Wagner Freire. Cenário e Figurinos: Atílio Beline VazAssistência de direção: Vinícius Lopes e Myrela JatobáElenco: Ana Paula Faria, André Moss, Elohá Bartijoto, Flávia Mariotto, Guilherme Mazzei, Juliana Garcia, Júlio César Gomes, Luiz Felipe Bianchni, Nicole Fischer, Renata Sarmento, Renato Velloni e Vinícius Lopes. IluminadorAmadeo Canônico. FotografiaSuzana Martins. Duração: 80 minutos. Classificação: 14 anos.

Teatro Coletivo - Rua Consolação 1623. Ingressos – R$ 30,00 e R$ 15,00 meia-entrada para estudantes, idosos, classe e deficientes. Capacidade do teatro – 134 lugares.


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