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sexta-feira, 5 de julho de 2013

Adaptação do texto de Jean Genet, As Desgraçadas, da Cia Auroras, cumpre temporada no Teatro Cacilda Becker

Uma instalação formada por 380 lâmpadas incandescentes delimitam o espaço cênico. A trilha sonora é disparada ao vivo de acordo com a pulsação da cena. A peça foi Indicada ao Prêmio CPT na categoria Projeto Visual em 2012.

Unindo diferentes linguagens artísticas, como as artes cênicas e as artes plásticas, além de flertar com o universo das telenovelas brasileiras de forma bem humorada e áspera, a peça As Desgraçadas, da Cia Auroras faz temporada de 19 de julho a 25 de agosto, sextas e sábados às 21h e domingo às 19h, no Teatro Cacilda Becker.

A dramaturgia é de Felipe Sant`Angelo, livremente inspirada no texto As Criadas, do dramaturgo francês Jean Genet (1910-1986) com direção de Beatriz Morelli. O artista plástico Ding Musa assina cenografia e iluminação, a trilha sonora original é de Bill Saramiolo. No elenco, Giu RochaMariana Leme e Rita Batata.

Em cena, uma babá devota, uma doméstica insatisfeita com o serviço e uma patroa que trata suas funcionárias como seres invisíveis. A cenografia suspensa, formada por 380 lâmpadas incandescentes enfileiradas, delimita o palco onde acontecem os embates sentimentais, ideológicos e morais entre as personagens. As atrizes tem autonomia para manipular a luz de dentro do espaço cênico, direcionando o olhar do público.

A encenação busca um espaço não realista, onde cada gesto, adereço ou objeto cênico tem sua função clara. “A síntese é um elemento fundamental na minha concepção, presente tanto nas ações físicas das personagens, quanto na composição estética do espetáculo (cenografia, luz, trilha sonora e figurino). Isso cria um contraponto interessante com o tom melodramático do texto onde o exagero está declarado. Recortes na encenação, verticalizam, de forma bem humorada, os delírios das personagens. Aquilo que estamos acostumados a esconder por trás da máscara social, é revelado para o público”, conta Beatriz Morelli. 

Conflitos declarados
Graça (Rita Batata) é uma babá tão devota ao trabalho que chega ao extremo de confundirse com sua patroa. Dona Carmen (Mariana Leme) é uma mãe de família que acaba de ser abandonada pelo marido depois de descobrir, por meio de uma carta anônima, que ele tinha um caso com uma mulher mais jovem. Lurdes (Giu Rocha) é uma doméstica insatisfeita com seu trabalho, mas que assume com prazer o papel da opressora quando descobre que Graça é a autora da carta anônima, e ameaça denunciála caso a babá não faça todo o serviço da casa por ela. Enquanto D. Carmen trata suas empregadas como seres invisíveis, Lurdes e Graça travam uma batalha que fatalmente chamará a atenção da patroa e levará seu lar à derradeira ruína.

A montagem provoca o espectador ao fazer uma reflexão sobre as relações sociais, e estabelece na arena dos embates sentimentais, ideológicos e morais das personagens, uma possibilidade de identificação, questionamento e troca com o público. Apropria-se desta linguagem para fazer uma crítica sarcástica da relação patroa/empregada e das relações afetivas de submissão.

“Assim como acontece nas novelas, a peça tem apelo popular ao abordar questões por meio dos conflitos declarados das personagens. Nos utilizamos do olhar do público habituado a televisão para ir além e proporcionar uma vivência estética que abra um novo paradigma e gere o interesse para o que existe além da cultura de entretenimento. Ampliando a análise para o âmbito sócio-político, apresentamos o embate entre as classes sociais, que mesmo separadas por um abismo de realidades distintas, convivem e dividem o mesmo teto. Uma casa onde as personagens se vêem obrigadas a se relacionar e nutrem sentimentos de afetividade, rivalidade e indiferença, inerentes a todo ser humano”, fala a diretora.

A cenografia de Ding Musa sugere um ambiente intimista e claustrofóbico e foi criada a partir da leitura do texto Entre Quatro Paredes,de Jean-Paul Sartre. “Quando li o texto do Felipe Sant’Angelo pela primeira vez, me veio a imagem dos personagens tendo de se resolver dentro de um ambiente fechado e pequeno, que me lembrou muito o texto de Sartre. A ideia foi tirar os aspectos realistas e criar um ambiente que apenas sugerisse um espaço de arquitetura fechado, iluminado como um todo, onde ficassem mais evidente as relações que se estabeleceriam entre os personagens. Como uma forma de purgatório, ou limbo, onde todas as questões pendentes precisassem ser esclarecidas. Os objetos de cena, com exceção da taça e do chapéu, foram reduzidos a um banco, uma caixa de jóias e uma mamadeira de vidro, para que o texto fosse valorizado e ficasse ainda mais evidente esse aspecto de um lugar etéreo, onde questões que sobressaem o mundo precisassem ser resolvidas”, conta o cenógrafo.

A trilha sonora original do Bill Saramiolo pontua e colore a atmosfera da peça. É executada ao vivo, por meio de um equipamento eletrônico que dispara as faixas em tempo real, em sintonia com a pulsação das atrizes. O figurino de Mira Andrade é atemporal, mas toma como referência elementos que sintetizam o vestuário da alta burguesia francesa da época do Pós-Guerra, mesmo período que foi escrita a peça As Criadas, de Jean Genet.

Após estrear no Sesc Santos, em 2010, As Desgraçadas cumpriu temporada no Sesc Consolação e Oficina Cultural Oswald Andrade, concorrendo ao prêmio CPT-2012 (da Cooperativa Paulista de Teatro) na categoria Projeto Visual - que contempla cenografia, direção, figurino e maquiagem do espetáculo - ao lado do Teatro da Vertigem. Em julho, participa do Festlip - Festival Internacional da Língua Portuguesa, no Rio de Janeiro.


As atrizes e suas personagens
Giu Rocha – Lurdes, a faxineira
“A Lurdes é a personagem que de cara expõe seu lado podre sem melindres. Essa é sua força, sua arma de proteção e sua graça. Ela é a faxineira e carrega a simbologia de quem "mexe com a sujeira" com o lado escuro. Seu humor mora exatamente na clareza que ela tem da sua "maldade" e na maneira leve com que ela encara sentimentos como a inveja e a cobiça. Essas características refletem fisicamente em uma partitura que privilegia o plano baixo (está quase sempre no chão), um timbre que passeia por regiões mais graves e tempos de resposta mais esgarçados e debochados. É uma personagem cheia de dicotomias, onde habita a podridão e a leveza, a sombra e o deboche, a inveja e a brincadeira.”

Mariana Leme – D. Carmen, a patroa
“Ela é uma mulher insegura, que vive de aparências e relações superficiais. De origem abastada, nunca se esforçou para conquistar nada. O marido e o filho são objetos de consumo, peças que compõem o modelo "socialite" de alto nível. D. Carmem vive em um mundo à parte, uma vida fantasiosa e de extrema instabilidade emocional, onde não dirige a palavra -- nem sequer o olhar -- para suas empregadas; conversa com elas por meio do filho, sendo assim autoritária e por vezes opressora. A rejeição do marido é a constatação de sua solidão. Este abandono se torna uma força propulsora, um mecanismo de catarse que a leva à loucura. Desesperada e consumida pelo cansaço, a personagem, que por vezes tira risos da plateia com ações absurdas, acaba agindo num misto de representação e verdade absoluta.”

Rita Batata – Graça, a babá
“A Graça é uma personagem extremamente sincera, quase ingênua, que se anula em nome das pessoas pelas quais tem afeto e amor. A fé é o combustível dela e dessa maneira me apropriei de alguns apontamentos no texto dramatúrgico. Radicalizei assumindo a Graça como uma pessoa religiosa, que crê no divino, no amor, no ser humano. É uma personagem transparente. Para conquistar essa qualidade me utilizei da linguagem do clown que é em sua essência a própria sinceridade.  Numa devoção absoluta, ela exerce uma relação de espelhamento com a patroa, nutrindo uma relação fantasiosa ao ponto de se anular como indivíduo.”

Sobre a Cia Auroras
A Cia. Auroras é um coletivo de atrizes fundada por Beatriz Morelli e Giu Rocha em 2003, após a formatura na Faculdade de Comunicação das Artes do Corpo /PUC-SP, com o intuito de dar continuidade a pesquisa teatral desenvolvida no trabalho de conclusão A Obra Completa de Nelson Rodrigues, sob coordenação e direção de Zé Rubens Siqueira.

Em parceria com a diretor Pedro Granato e o dramaturgo Felipe Sant ́Angelo, realizaram dois espetáculos: Obscenas – Fragmentos e Achaques Rodriguianos eObscenas – A Traição é uma Vaidade, resultado do mergulho na obra Rodriguiana e nas grandes figuras femininas que habitam este universo. No final de 2005, a companhia toma contato com a obra erótica de Hilda Hilst. A partir da leitura des textos no Teatro de Arena Eugenio Kusnet, desenvolveram performances com direção coletiva, divididas com o público em espaços não comerciais.
Em 2008, após um trabalho com Cibele Forjaz no Núcleo Experimental de Teatro do Sesi, Beatriz Morelli assume a direção e convida Mariana Leme e Rita Batata para seguirem a pesquisa da Cia.

Em 2010, tomadas pelo impulso de verticalização do pensamento do intérprete-criador, concentram sua pesquisa na obra do dramaturgo marginal francês Jean Genet, mantendo sua parceria com o dramaturgo Felipe Sant`Angelo. Após um ano e meio de processo de criação, desenvolvem o espetáculo inédito As Desgraçadascumprindo temporada no SESC Consolação/SP e na Oficina Cultural Oswald de Andrade, também se apresentando no SESC Santos, SESC Bauru e em diversos teatros do CEU, e ainda participando dos festivais de teatro Abril Pra Cena e Festa54.

Ficha técnica:
Dramaturgia - Felipe Sant'Angelo. Direção - Beatriz Morelli. Elenco - Giu Rocha, Mariana Leme e Rita Batata. Cenografia, iluminação e fotos - Ding Musa.Cenotécnico - Pedro Terra. Operação de luz - Luz Lopez. Trilha sonora original - Bill Saramiolo. Músicos - Marcio Roldan (piano), Rafael Costa (contrabaixo acústico), Martin Mirol (bandoneón). Execução de trilha - Hélio Ishitani e Bill Saramiolo. Figurino - Mira Andrade. Assistente de figurino - Rita Batata.Preparação vocal - Pedro Granato. Produção Executiva - Giu Rocha e Beatriz Morelli. Produção - Cia Auroras.

Para serviço:
As Desgraçadas – Reestreia dia 19 de julho, sexta-feira, às 21 horas, no Teatro Cacilda BeckerClassificação etária - 10 anos. Gênero – Tragicomédia.Duração - 55 minutos. Ingressos – R$10,00 e R$5,00. Não haverá espetáculo no dia 23 de agosto.

TEATRO CACILDA BECKER – Rua Tito, 295 – Vila Romana. Telefone: 11 3864 4513. Tem acesso para deficientes. Capacidade – 198 lugares.

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