Translate

terça-feira, 5 de março de 2013

Aos 30 anos, Primeiro Ato dança Pó de Nuvens com inspiração no universo de Milton Nascimento e Guimarães Rosa


Costurando as linguagens da dança contemporânea e da música com a literatura, o espetáculo retrata os hábitos e a poesia do cotidiano mineiro. À convite da diretora do grupo, Suely Machado, a dupla Denise Namura e Michael Bugdahn (da companhia francesa À Fleur de Peau) assina a concepção e coreografia da obra. No palco, nove bailarinos dançam trechos das músicas Caicó, Pablo  e Paula e Bebeto, entre outras.

“O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.” Do escritor mineiro Guimarães Rosa, a frase, mais do que pertencer a sua obra-prima, Grande Sertão: Veredas, se aplica perfeitamente a trajetória de 30 anos do grupo de dança Primeiro Ato e seu novo espetáculo, Pó de Nuvens, que estreia dia 16 de março, sábado, às 20h, no Teatro do Sesc Pinheiros.

Com concepção e coreografia da paulistana Denise Namura e do alemão Michael Bugdahn (que vivem em Paris há mais de 30 anos e dirigem a companhia francesa À Fleur de Peau), Pó de Nuvens tem a proposta de retratar por meio da dança contemporânea as particularidades, a leveza, a poesia e a universalidade da cultura mineira. Para isso, o grupo se valeu das obras e do universo do cantor e compositor Milton Nascimento e do romancista e poeta Guimarães Rosa, expoentes da cultura mineira e nacional.

O trabalho marca as comemorações de 30 anos de carreira do grupo mineiro Primeiro Ato que, com mais de 17 espetáculos em sua história, tornou-se notório pela multidisciplinaridade de suas montagens e pela intersecção entre a dança e diversas linguagens artísticas como o teatro, a mímica, as artes plásticas e a poesia. Em Pó de Nuvens, o diálogo é entre dança, literatura e música. Em cena, os bailarinos Ana Virginia Guimarães, Alex Dias, Danny Maia, Jonatas Raine, Lucas Resende, Marcela Rosa, Pablo Ramon, Vanessa Liga, Verbena Cartaxo.

Composta principalmente por fragmentos de canções de Milton Nascimento e composições originais de Michael Bugdahn, a trilha sonora se une aos elementos de cena e carrega os movimentos da coreografia, estabelecendo os temas e o ambiente da “mineiridade”.

Entre as composições de Milton Nascimento, a trilha destaca Pablo (do álbum Milagre dos Peixes, 1973, parceria com Ronaldo Bastos), a cantiga Caicó (gravada em Sentinela, 1980) e Paula e Bebeto (de 1975, parceria com Caetano Veloso). “A trilha sonora vai em conjunto com os movimentos, as luzes e os vídeos – é um todo. Como uma máquina onde cada parafuso tem uma função e tudo funciona junto”, afirma a coreógrafa Denise Namura.

Organizado como um livro – com cenas representando capa, prefácio e capítulos –, o espetáculo busca na literatura referências não só estruturais como de significado. “Nos inspiramos tanto na vida quanto na obra de Milton e Guimarães, buscando imagens ligadas a eles, emoções sentidas a seu contato, frases e personagens de suas obras e de Minas em geral”, comenta Michael.


Cores de Minas
Composto por roupas do dia a dia e inspiradas nas cores de Minas, o figurino “é simples e sofisticado. Buscamos a gama de cores da terra, do minério, do pôr do sol, das árvores, das montanhas, de todas aquelas imagens do imaginário mineiro”, segundo Suely Machado, diretora do grupo.

Em contraste ao tom da terra e da flora, entra a iluminação, de autoria do próprio coreógrafo Michael. “Buscamos trazer o azulado do céu de Minas por meio de tons de lilás e azul. A ideia é fazer o público sentir como se estivesse no alto da montanha, um belo horizonte, em um tempo que parece flutuar”, afirma Suely.

A performance utiliza objetos em cena para construir situações do cotidiano mineiro, como banquinhos que representam tanto os “cantinhos de prosa” dos mineiros como o “sobe e desce” das montanhas de Minas, além de folhas de papel espalhadas pelo chão de onde os bailarinos “se extraem” por meio de movimentos – como personagens saídos da obra de Guimarães. O palco ainda abrigaescada e escrivaninha com cadeira e livros.

O ambiente familiar – muito presente no universo de Guimarães e representado em uma dança interpretativa da música Cálice (de Chico Buarque e Gilberto Gil) –, os trejeitos do mineiro, seus costumes e sua poética dos detalhes são capturados por um olhar plural e colaborativo, composto pelas experiências do grupo no interior e fora de Minas.


Olhar exterior
Diferentemente das origens do Primeiro Ato, a dupla de coreógrafos Denise e Michael não nasceu em Minas Gerais. Ela paulistana e ele alemão, ambos se radicaram na França há mais de 30 anos, onde têm vivido e trabalhado com sua companhia de dança, À Fleur de Peau, e colaborado com dezenas de grupos de dança e de teatro no Brasil e na Europa.

Após uma residência de dois meses em Belo Horizonte dando aulas e conduzindo ensaios, Denise e Michael entraram em contato com o Primeiro Ato e passaram a desenvolver a coreografia de Pó de Nuvens. É a primeira vez que a dupla contribui com o grupo.

Para Suely, a presença de dois coreógrafos de fora de Minas Gerais é um dos pontos fortes da obra. “Eles chamaram nossa atenção para aspectos que nos são corriqueiros, para uma poética que pode ser cotidiana para nós, mas que é muito especial. Eles nos ajudaram a rir de nós mesmos”.

“Não houve dificuldade em compreender e entrar no espírito mineiro com nossa sensibilidade pessoal”. comenta Denise. “Estivemos em Minas com o grupo, observando e escutando muito, vendo a natureza e explorando as histórias e os personagens do cotidiano”.

Nesse sentido, as obras de Milton e Guimarães foram essenciais para a compreensão do espírito mineiro. “Sempre tivemos uma grande paixão por ambos os artistas. Pensamos em falar deles com nossa visão de fora de Minas e de fora do Brasil. Mesmo que totalmente brasileiros, os dois também são impossíveis de classificar e realmente universais”, afirma Michael.

Travessia e trajetória

A escolha deste espetáculo para comemoração dos 30 anos do Primeiro Ato é diretamente relacionada à carreira e concepção artística do grupo. “Pó de Nuvens não se enquadra em nenhum lugar pré-estabelecido, é uma obra de arte permeada por várias outras artes. Da mesma forma é a nossa trajetória”, pontua Suely.

“Há sempre uma busca pelo profundo, por uma poesia bem específica. E este trabalho nos permite fazer esta travessia: do lúdico ao profundo, do universo solitário do sertão para a alegria de uma revoada, vivendo experiências sem perder o fio da meada, afirma Suely. ”A força das nossas montanhas, o crochê, o fuxico, a musicalidade, a escolha pelas coisas simples, enfim, o jeito mineiro de ser, viver, criar e sentir, tudo isso está presente aqui”.

“Acho que fazer 30 anos é amadurecer e é muito saudável fazer isso enquanto nos revemos, por meio do olhar do outro – e este espetáculo é ideal para revermos e comemorarmos essa nossa travessia”, finaliza Suely.


Sobre o Grupo de Dança Primeiro Ato
O Grupo de Dança 1º Ato, sob a direção de Suely Machado, completou 30 anos de existência reafirmando assim a sua importância no cenário da dança mineira e nacional. Detentor de uma linguagem bem peculiar, o grupo realiza um trabalho em dança contemporânea, diverso e singular. Desde 1982, tem por objetivo investigar e ampliar o universo da dança em espetáculos expressivos, com apuro cênico, rigor técnico e forte apelo emocional, através de processos colaborativos de pesquisa. A participação ativa dos bailarinos na criação traz um resultado no desenvolvimento do processo criativo. Uma direção clara confere à estrutura uma linguagem que caracteriza o 1º Ato como um grupo que subverte padrões e conceitos sem perder suas origens. Investe na interseção das artes, não se prende apenas aos palcos, mas contrabalança espaços privilegiados com a força caótica das ruas. O Primeiro Ato não é apenas um grupo de dança, mas também um espaço de intercâmbio e residências artísticas (EACC Espaço de Acervo e Criação Compartilhada), Projeto  Social Dançando na escola que atende por ano 200 crianças e jovens de 6 a 14 anos e o 1º Ato Centro de Dança responsável pela formação e profissionalização de novos bailarinos.


Sobre Denise Namura e Michael Bugdahn

Radicados na França há trinta anos, a brasileira Denise Namura e o alemão Michael Bugdahn são fundadores da Cia. “À Fleur de Peau”, que reúne bailarinos pela pesquisa de linguagens diversificadas como dança, mímica, teatro e circo. Já criaram mais de 30 espetáculos desde 1986 para a companhia e colaboraram com outras no Brasil e Europa como: Grupo de Dança Primeiro Ato, Cisne Negro, Balé da Cidade de São Paulo, o Bernballet (Suíça), Cia. Cirka Teater (Noruega), Cia. de Danças de Diadema e a Cia. Portuguesa de Bailado Contemporâneo (Portugal).


Ficha Técnica:
Direção Geral e ArtísticaSuely Machado. Assistente de DireçãoMarcela Rosa. Concepção e CoreografiaDenise Namura e Michael Bugdahn. ElencoAna Virginia Guimarães, Alex Dias, Danny Maia, Jonatas Raine, Lucas Resende, Marcela Rosa, Pablo Ramon, Vanessa Liga, Verbena Cartaxo. Bailarina estagiáriaCecília Cherem. Maitre de Dança:Betinna Belomo. PianistasImaculada / Edmeia. Iluminação CênicaMichael Bugdahn. Concepção de FigurinoMarco Paulo Rolla e Denise Namura. Criação de FigurinoMarco Paulo Rolla. Execução de figurinoHelena Fiúza. Trilha Sonora e pesquisa musicalMichael Bugdahn. Gravação de vozesLula Ribeiro. Concepção de cenárioMichael Bugdahn.Execução de cenárioLeandro Marra e Fernando Bauer. AdereçosFernando Bauer. Concepção de VídeoMichael Bugdahn. Produção e criação VídeoImago Filmes. Dramaturgia e pesquisa de TextosMichael Bugdahn. Identidade VisualReciclo Comunicação. CenotécnicoRoberto Duque. Operação de LuzElias do Carmo. Assistente de luzAlon Caetano. SonoplastaEvandro José. ProduçãoRegina Moura. Assistente de ProduçãoLica Capovilla e Luanda Bastos. Coordenação financeiraJacqueline Costa. Assessoria de imprensa: Arteplural.


Serviço:
Pó de Nuvens estreia dia 16 de março, sábado, às 20hs no Sesc Pinheiros. Temporada: 16 e 17 de março, sábado às 20h e domingo às 18h. Censura: Livre.Duração: 90 Minutos. Sesc Pinheiros – Rua Paes Leme, 195, CEP: 05424-150, próximo ao Metrô Faria Lima – Tel: 3095-9400. Capacidade – 1010 lugares.Ingressos – R$ 20,00 (Inteira), R$ 10,00 (usuário matriculado no SESC e dependentes), R$ 5,00 (trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes).


Nenhum comentário:

Postar um comentário