Translate

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Facas nas Galinhas volta com nova temporada, no Tucarena


Produção esmerada da Barracão Cultural está indicada ao Prêmio Shell pela direção, cenário e música e ao Prêmio CPT pela direção, além de integrar a Mostra Oficial 2013 do Festival de Curitiba.

Depois de duas temporadas de sucesso em 2012, o espetáculo Facas nas Galinhas volta ao cartaz para uma breve temporada no Tucarena. A reestreia acontece no dia 9 de março, sábado, às 21 horas. Com texto do escocês David Harrower e direção de Francisco Medeiros, a montagem tem elenco formado pelos atores Eloisa Elena, Cláudio Queiroz e Thiago Andreuccetti.

Encenada em 25 países, Facas nas Galinhas é um texto poético e simbólico sobre uma mulher jovem que se passa em uma aldeia, em um tempo arcaico, não definido. Casada com um camponês rude e, talvez, adúltero, ela tem um encontro com o odiado moleiro (dono do moinho) que a impulsiona no percurso da descoberta de si mesma. Essa mulher perfaz uma trilha que a leva da ignorância à consciência, do literal ao imaginário, da escravidão à libertação.

Segundo o diretor Francisco Medeiros, “o percurso da personagem, num contexto cheio de intrigas e elementos inusitados, é a construção de uma identidade, o desvendamento de um ser. É conquista de uma individualidade”. Essa mulher apresentada por Harrower é o arquétipo da mulher servil ao marido e que ainda não tem aflorado o exercício da metáfora, do simbólico. De forma brilhante e singular o autor a conduz ao encontro consigo mesma, como se fosse a construção de um ser.

Considerado por muitos um texto difícil de encenar, Facas nas Galinhas exige dos atores sua máxima potência cênica. Quanto a isto o diretor confessa: “a peça é de uma simplicidade desconcertante, tão absurda que nos desafia na visualização de uma encenação”. Ele ainda explica que a comunicação calcada na simplicidade não é a mais fácil de encenar. “Esta ficção dramática é descamada de truques, desprovida de efeitos e de golpes de teatro, mas tem fortes e potentes ingredientes narrativos”. A direção não se desprende desta simplicidade e explora a força das palavras e situações. “Nosso propósito é evitar a ilustração, a redundância, e convocar o espectador para ser parceiro ativo para que, só assim, a obra se complete.”

A solução cenográfica foi outro desafio. Ela possibilita o jogo multifacetado proposto por Harrower, numa cronologia não linear, e apela para a imaginação do espectador diante de uma lógica bem particular. Nesta montagem brasileira o cenário (de Marco Lima) é abstrato e provocativo, em combinação com a luz (de Marisa Bentivegna), importante, inclusive, nas referencias de tempo e nos recortes para criar múltiplos ambientes e atmosferas. No cenário, uma estrutura circular (como a pedra de moinho, cercada por caminhos forrados por grãos, como o trigo de que se faz a farinha) abre várias possibilidades para situar cada cena. E a concretude desse cenário dá forma e magia a um campo, uma casa, um moinho...

A trilha (de Dr Morris) é um “complexo sonoplástico”, uma instalação sonora que combina sons primitivos e naturais, em sua maioria executados ao vivo pelos atores, propondo a harmonia entre o texto e natureza bucólica rural.

Eloisa Elena, atriz e diretora da Barracão Cultural, conta que a “escolha por este texto foi quase sensorial”. Procurava por um autor contemporâneo, leu a sinopse na Internet e descobriu que uma amiga havia montado a peça, em Portugal. Entrou em contato com ela e envolveu-se por este universo rústico, poético e transbordante de simplicidade. “O que mais me atraiu foi essa possibilidade de poesia permanente, simples, que não aparece à primeira vista e precisa ser descoberta.”

Sinopse

         Uma mulher jovem leva uma vida de subserviência ao Marido, sem questionar, sem observar, sem apreciar. Apenas vive. O marido é um rude lavrador que tem uma relação não bem esclarecida com os cavalos, que estão sempre em primeiro plano. Eles moram numa cabana, no final do vilarejo, onde todos dependem do moinho para processar os grão e fazer a farinha. O moleiro (homem que possui livros e gosta de escrever e beber) é odiado por todos os habitantes, considerado um explorador (porque quem faz o trabalho é o moinho), um bruxo (sabe de tudo que se fala por ali) e pode ser até um assassino.

Um dia essa mulher sai da cabana e vai levar o almoço para o marido no campo e, pela primeira vez, ela para por um momento e tem sua primeira experiência de contato, de relação, com o mundo. Passa a observar e refletir sobre os fenômenos e as coisas da natureza. Começa aí sua transformação, seu despertar.

Sua relação com o moleiro se dá quando o marido, ocupado com o parto de uma égua, incumbe-a de levar os grãos até o moinho, dizendo que ela só precisa entregar os sacos, aguardar pela farinha e odiar o moleiro. Mas ela encontra um homem que é o oposto do marido, que lhe observa e oferece ajuda. Esse homem colabora para o seu despertar para a vida. É ele quem lhe apresenta, por exemplo, uma caneta. Ela, até então, só usara o giz e as palavras pronunciadas.

Com o desgaste da pedra do moinho a população resolve levar uma pedra nova para agilizar o serviço, quando o moleiro lhes oferece uma bebida. Isto resulta numa série de desdobramentos e envolvimentos entre ele, a mulher e o marido. O desfecho se dá quando vão guardar a pedra velha nos fundos da casa do moleiro e algo inesperado acontece.

Ficha técnica
Espetáculo: Facas nas Galinhas
Texto: David Harrower
Tradução: Fábio Ferretti
Direção: Francisco Medeiros
Elenco: Eloisa Elena, Cláudio Queiroz e Thiago Andreuccetti
Trilha sonora: Dr Morris
Cenário e figurino: Marco Lima
Iluminação: Marisa Bentivegna
Coordenação técnica: Maurício Mateus
Instalação sonora: Dr Morris e Maurício Mateus
Preparação corporal: Fabricio Licursi
Designer gráfico: Teresa Maita
Fotografias: João Caldas
Construção de cenário: Ono-Zone Estúdio
Costureira: Benedita Calixtro
Produção executiva: Geondes Antonio
Administração: Marina Porto
Realização: Barracão Cultural - www.barracaocultural.com.br
Serviço
Temporada: 9 de março a 28 de abril
Não haverá espetáculo nos dias 30 e 31/3 (grupo estará no Festival de Curitiba)
Rua Monte Alegre, 1024 (entrada pela Rua Bartira) – Perdizes/SP
Horários: sábados (às 21 horas) e domingos (às 19 horas) - Tel: (11) 3670-8455
Ingressos: R$ 40,00 (meia: R$ 20,00). Bilheteria: terça a domingo, das 14h às 20h ou até o início das sessões. Aceita dinheiro e cartões (todos). Lotação: 200 lugares
Gênero: Drama - Duração: 70 min - Classificação etaria: 12 anos
Ingressos antecipados: www.ingressorapido.com.br e tel: (11) 4003-1212
Estacionamento: R. Monte Alegre, 835 (R$ 15,00).

Críticas

O sedutor (moleiro) (...) tem o dom da escrita. Tudo o que a mulher deseja é exatamente manejar as palavras para definir suas fantasias. Deixa-se envolver porque, além de desconhecer o carinho masculino, o estranho, visto como um criminoso e explorador da labuta alheia, oferece cordialidade e ainda a ensina usar papel, tinteiro e caneta de pena. Algo mágico fora de uma rotina conjugal de ordens e monossílabos grosseiros. (...) O grupo Barracão Cultural apresenta uma montagem com o impacto da cenografia de Marco Lima sugerindo simultaneamente grades e a roda de moer grãos, imagem reforçada pela iluminação misteriosa de Marisa Bentivegna. (Jefferson Del Rios – O Estado de S. Paulo)

Eloisa Elena transita entre a doçura, o inconformismo e a frieza em sutis olhares e entonações de voz. Queiroz e, principalmente, Andreuccetti apresentam-se como contrapontos à altura da protagonista. No entanto, as soluções criadas por Francisco Medeiros, como chuva de farinha ou as gotas de sangue, em meio à simplicidade da produção chamam atenção não só pela criatividade como pelo talento em fazer bom teatro com poucos recursos disponíveis e poesia de sobra.(Dirceu Alves Jr. – Veja São Paulo)

A montagem, encabeçada pelo brilhante diretor Francisco Medeiros (...), revela que a Modernidade nos dias atuais chegou para acusar que ainda estamos vivendo submersos nas “garras das mais primitivas armadilhas” humanas e sociais. (...)o grupo “Barracão Cultural” faz um discurso cênico demolidor ao mesmo tempo cravando expectativas que nos fazem respirar fundo e evocar o “vamo que vamo”. Magnífico! (Jair Alves – Portal Macunaíma)

A direção de Francisco Medeiros, aliada à cenografia e aos figurinos de Marco Lima são enxutas e sinalizam a opção, concretizada, de extrair do poético texto de Harrower sua atemporalidade e não definição do lugar em que se passa a peça, transportando-a para um espaço arquetípico, propício à curiosidade que leva à descoberta. (...) DrMorris cria mais que mera trilha, ele realiza uma sonorização que dialoga o tempo todo com a concepção da cena. Sem dúvidas este é um espetáculo que fica cravado no espírito de quem o assiste. (Michel Fernandes – Aplauso Brasil)

Facas nas Galinhas e David Harrower

Facas nas Galinhas – primeira peça de David Harrower - é uma das mais “clássicas” obras teatrais contemporâneas em língua inglesa. Estreou em Edimburgo, em meados dos anos 90, numa produção do Bush Theatre e do Traverse, com direção de Philip Howard. Logo virou sucesso em importantes palcos europeus, sendo traduzida e encenada em dezenas de países.

O texto de David Harrower tem características enigmáticas, pois combina a construção de uma história de desejo, traição e morte com solidão, sexualidade e despertar de uma consciência. O título da peça pode, talvez, ser explicado por uma fala da jovem protagonista, quando ela, reportando-se à sua labuta diária, afirma: “Tudo o que preciso fazer é enfiar nomes nas coisas do mesmo jeito que eu enfio a faca na galinha”. Neste sentido, a peça é a história da transformação de uma mulher que emerge como paradigma da ambição de chegar mais perto das coisas. “É totalmente simbólico: o que ocorre com esta mulher é simples, natural, cruel e necessário”, diz Eloisa Elena.  

"Eu não uso uma linguagem realista, quero criar uma linguagem mais pura, mais poética, que significa mais do que aquilo que parece. E descobri isso escrevendo esta peça." Diz Harrower, que conta a história de forma elíptica, rarefeita, servindo-se de uma escrita direta, simbólica e até cruel para descrever a complexa relação das personagens com a linguagem e com sua própria realidade. “Eu queria criar um mundo que parecesse incrivelmente estranho e arcaico. Um mundo pré-industrial. Mas queria também pensar nele metaforicamente – um mundo no qual a linguagem fosse usada muito especificamente. Um mundo de tal modo mergulhado nos ritmos do trabalho e da existência que não havia tempo para coisas exteriores, no qual as pessoas vivessem dentro da natureza e não pudessem sair do mundo e olhar para o seu lugar dentro dele”.

David Harrower nasceu em 1966, em Edimburgo, Escócia. Sua origem humilde fez com que ganhasse a vida lavando pratos. Ele afirma que não tinha dinheiro suficiente nem para ir ao teatro. Ele é autor das seguintes peças: Matem os Velhos, Torturem Suas Crias (1998), Presença (2001), Terra Negra (2003), A Recusa(2006), Blackbird (2006, que teve montagem paulistana, dirigida por Alexandre Tenório e interpretação de Cristina Cavalcanti e Nelson Baskerville), 365 (2008),Cinzas de Sangue (2009), Começar de Novo (2009), Caixa de Surpresas (2009) e a mais recente, A Slow Air, que estreia em maio no Trycicle Theatre, em Londres, depois de ter estreado no Festival de Edimburgo, com sua própria direção. Harrower também adaptou A Crisálida (John Wyndham), Seis Personagens à Procura de um Autor (Pirandello), Ivanov (Tcheckov), Büchner (Woyzeck), Contos das Florestas de Viena (Ödon vön Horváth), A Alma Boa de Setsuan (Bertolt Brecht), Sweet Nothings (Arthur Schnitzler) e ainda traduziu Menina no Sofá e Púrpura (Jon Fosse).

Francisco Medeiros - diretor

Francisco Medeiros é Bacharel em Direção Teatral, Crítica e Dramaturgia pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Como Diretor de espetáculos de teatro, dança e ópera, iniciou a carreira em 1973 com a encenação de Fando e Lis, de F. Arrabal. Desde então já dirigiu mais de 130 espetáculos, entre os quais: Artaud, o Espírito do Teatro, de José Rubens Siqueira, Depois do Expediente, de Franz Xaver Kroetz, Tronodocrono, de Gabriela Rabelo e José Rubens Siqueira, Criança Enterra, de Sam Shepard, Risco e Paixão, de Fauzi Arap, Marat-Sade, de Peter Weiss, A Gaivota, de A. Tchekov, Sherazade, de José Rubens Siqueira, Flor de Obsessão, de Pia Fraus Teatro, Eonoé, de José Rubens Siqueira, A Conferência dos Pássaros, de Jean-Claude-Carriière, Nossa Cidade, de Luis Alberto de Abreu,Uma Vida no Teatro, de David Mamet, Os Iks, de Colin Higgins e Jean-Claude-Carrière, Hamlet, de W. Shakespeare, Subúrbia, de Eric Bogosian, A Última Gravação de Krapp e Fim do Jogo, de Samuel Beckett, O Pupilo Quer Ser Tutor, de Peter Handke, Alta Noite, de Elisio Lopes Jr., Loucos Por Amor (de Sam Shepard), Réquiem (de Hanoch Levin), O Amante (de Harold Pinter), Espectros (adaptação de I. Bergman da obra de H. Ibsen, indicação de Melhor Diretor nos prêmios APCA e Cooperativa Paulista de Teatro). Além de encenador de textos clássicos, sempre demonstrou interesse pelo trabalho com dramaturgos brasileiros vivos, muitas vezes em processos colaborativos, entre eles Noemi Marinho, Alcides Nogueira, Luis Alberto de Abreu, Lucienne Guedes e Flavio Goldman (Os Passageiros, indicado como Melhor Diretor nos prêmios APCA e Cooperativa Paulista de Teatro).

Além de Teatro, sua atuação na área da dança como Diretor inclui trabalhos com o Cisne Negro (Iribiri, Premio APCA de Melhor Direção), com Antonio Nóbrega (O Reino do Meio-dia) e Cia. de Dança Ruth Rachou (Aukê, Scapus, além de Vir-a-ser em homenagem aos 80 anos de Ruth Rachou). No campo da ópera, dirigiu no Theatro Municipal de São Paulo, Eugène Oneguin, de Tchaikowski, com regência do maestro Isaac Karabtchevsky. A experiência com diversas linguagens cênicas é uma das características da trajetória de Francisco Medeiros, que lhe valeram mais de 40 prêmios em quase 40 anos de carreira: Molière, Mambembe, Inacen, APCA, APETESP, Governador do Estado, Coca-Cola FEMSA e Panamco, além de 12 Indicações ao Prêmio Shell. Destaque também para o Prêmio Angel Award por Flor de Obsessão, do Grupo Pia Fraus, como Melhor Espetáculo de Teatro Físico do Festival Internacional de Edimburgo, em 1999. Atualmente, é Diretor Artístico do Núcleo Argonautas de Teatro, desde 1999, e Coordenador Pedagógico do Curso de Atuação da SP Escola de Teatro, Centro de Formação das Artes do Palco.

Barracão Cultural - realização

A Barracão Cultural é responsável pela criação e produção de espetáculos de teatro e música e tem como proposta realizar trabalhos de qualidade, que priorizam a pesquisa de temas e de linguagem, que sejam acessíveis e atendam a diferentes públicos.  Suas principais realizações em teatro são: O Tribunal de Salomão e o Julgamento das Meias-Verdades Inteiras (de Paulo Rogério Lopes, dir. Cuca Bolaffi, 2011), Cacoete (adaptação de Eloisa Elena para livro de Eva Furnari, dir. Heitor Goldflus, 2009), A Mulher Que Ri (de Paulo Santoro, dir. Yara de Novaes, 2008), Convite Para Jantar (2007), Um Destino Para Julieta e Romeu (2005) e Caixa Mágica (2004), As Roupas do Rei (2002). No campo da música produziu os CDs 5 (de Dr. Morris, em 2008) e Urbanda (homônimo, em 2004), shows com Dominguinhos, Renato Borghetti, Elza Soares, Mônica Salmaso, Paulo Moura, Yamandú Costa, Ná Ozzetti e co-produziu o evento Um Sopro de Brasil.

Prêmios e indicações: O Tribunal de Salomão e o Julgamento das Meias-verdades Inteiras (Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro de Melhor Espetáculo Infanto-Juvenil e 10 indicação ao Prêmio Coca-Cola Femsa); Um Destino para Julieta e Romeu (Prêmio Coca-Cola Femsa Revelação para Marina Reis pelo Figurino e mais três indicações); Caixa Mágica (Prêmio Coca-Cola Femsa de Melhor Direção e Melhor Ator indicado e mais oito indicações, incluindo Melhor Produção); As Roupas do Rei (Prêmio APCA de Melhor Espetáculo); Convite para Jantar (Prêmio Myriam Muniz – Funarte/Petrobras) e 5, CD de Dr Morris (Prêmio Estímulo da Secretaria Municipal de Cultura/SP).

A Barracão Cultural participou do Festival Internacional de Teatro de Curitiba, Ciclo Devassos na Dramaturgia, Mostra SESI de Teatro Infantil, Mostra Viagem Teatral SESI e 5ª Mostra de Referências Teatrais de Suzano, além de fazer o Circuito CEU’s de São Paulo, Circulação PAC e ter espetáculo selecionado pelo Edital de Ocupação da Funarte/SP. Em Belo Horizonte participou do VAC – Verão Arte Contemporânea e, no Rio de Janeiro, do FESTLIP – Festival de Teatro da Língua Portuguesa.

Assessoria de imprensa: VERBENA COMUNICAÇÃO
Tel: (11) 3079-4915 / 9373-0181- eliane@verbena.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário