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sábado, 2 de junho de 2012

Club Noir de Roberto Alvim encena tragédias de Ésquilo. As Suplicantes


CLUB NOIR apresenta PEEP CLASSIC ÉSQUILOprimeira vez que uma cia encena todas as obras do primeiro autor da história do teatro


O grupo de Roberto Alvim monta, de junho a dezembro, todas as seis
tragédias de Ésquilo, cada uma apresentada por um mês, de sexta a domingo.
A primeira estreia é As Suplicantes.

Pela primeira vez (no Brasil e também no âmbito internacional) uma companhia encena todas as obras do primeiro autor da história do teatro. Com direção e adaptação de Roberto Alvim, a companhia CLUB NOIR apresenta o projeto PEEP CLASSIC ÉSQUILO, formado pelas seis peças do primeiro dramaturgo que se tem notícia, reconhecido como o pai da tragédia, o mais antigo dos três autores gregos (os outros são Sófocles e Eurípedes), entre dia 8 de junho e 16 de dezembro de 2012. A programação abre com a tragédia AS SUPLICANTES.  O projeto tem patrocínio do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.

Cada tragédia será apresentada por um mês, de sexta a domingo, no CLUB NOIR. O projeto prossegue com as estreias mensais dos outros textos – OS PERSAS (6 a 29 de julho),SETE CONTRA TEBAS (3 a 26 de agosto), PROMETEU (6 a 30 de setembro), ORESTEIA I (5 a 28 de outubro) e ORESTEIA II (2 de novembro a 16 de dezembro). É a primeira vez (no Brasil e também no âmbito internacional) que uma companhia encena todas as obras do primeiro autor da história do teatro. Ver sinopses na programação completa,

Por Roberto Alvim:
A dramaturgia de Ésquilo, como reinvenção do homem e do teatro: uma nova abordagem das primeiras peças (de que temos registro) escritas na história do teatro. Ésquilo as criou e encenou na Grécia do século V a.C., e agora elas chegarão ao palco do CLUB NOIR de um modo surpreendente, que potencializa radicalmente a pesquisa da companhia: todas as obras serão encenadas dentro de um cubo formado por linhas metálicas, sem trilha sonora alguma, explorando as inúmeras modulações e texturas das vozes dos atores, e tendo como iluminação apenas uma única lâmpada fluorescente, que delineia tenuemente a imobilidade das figuras em cena.

Tudo isto visa fazer eclodir, destes antigos textos, toda a potência de gráficos de forças que se constituem como alteridades em relação ao que chamamos, hoje, de vida humana. As peças instauram-se como estranhas paisagens em imobilidade-móvel (os atores estão estáticos no espaço, mas estão muito velozes no tempo, através dos trânsitos entre distintos planos vocais), em uma topografia de diferentes intensidades, instáveis, habitadas por outros moldes arquetípicos, desenhados em outras arquiteturas linguísticas, configurando umaexperienciação insuspeitada de alteridades radicais. A linguagem como força criadora de mundos: as palavras são como sementes, capazes de gerar sensações e imagens inclassificáveis no imaginário de cada espectador.     
O projeto PEEP CLASSIC ÉSQUILO pretende proporcionar ao público uma experiência estética imprevisível e autônoma, através do diálogo com obras de arte que se localizam fora de qualquer tempo específico ou contexto cultural: as peças se relacionam com forças inconscientes, indizíveis, forças capazes de desencadear processos sensíveis polissêmicos e perturbadores em cada espectador – novas possibilidades de vivenciarmos o tempo, o espaço, a linguagem, a condição humana.    

Encaramos o autor destas peças (para além de sua localização histórica) como o criador de uma poética fundante, de um teatro que não se configura como um espelho do mundo, mas que se instaura como uma insuspeitada tecelagem: criador de uma rede de fios engendrados por outros modos de subjetivação, por sensações e imagens e construções que são da ordem do inominável – posto que se localizam fora da cartografia reconhecível de nossa cultural global contemporânea. Não nos reconheceremos – nem a nós, nem ao nosso mundo – nestas obras; o que veremos aqui são outras possibilidades: outros mundos, habitados por outras formas de vida.

A alteridade estética das obras de Ésquilo instaura outra possibilidade do humano, promovendo transubstanciações dos sentidos unívocos (vocação primeira da palavra polissêmica grega) e revolução nos signos, através da abertura e expansão de um espaço/tempo poético, habitado por outros usos da linguagem.

Nestas tragédias, o que importa não é o contexto cultural/ficção/fábula que dita a ideia de um espaço/tempo-fixo-datado, mas sim a proposição intensa de uma estranha topografia de sensações e experiências que se nos afiguram como a presentificação brutal de outros modos de subjetivação – nos levando a redefinirmos a maneira estagnada e banalmente limitadora como a cultura de massa desenha hoje o ser humano.

Não se trata, nestas obras, de entendimento (compreensão unívoca da narrativa, objetificação do sujeito e esclarecimento acerca de suas motivações), mas sim de produção eexperienciação de intensidades desestabilizadoras, através da força de palavras que criam tempos e espaços. Produção de intensidades: produção de diferentes espécies de intensidade; em termos de estratégia de construção cênica, a produção de intensidades é o avesso do sistema linear acumulativo: trata-se, aqui, do traço e do apagamento imprevisíveis de pontos de fuga; isto afeta profundamente nossa percepção do tempo (por mythos, entendemos não a narrativa, mas sim o gráfico específico de forças (intensidades) desencadeadas naexperienciação destas obras).

Encontrar, em uma EXTREMA REDUÇÃO, a abertura de um novo campo de possibilidades: o nosso campo de atuação nestas obras.
E, graças a este poder de concentração, promover um estranho movimento de expansão – EXPANDIR POETICAMENTE (isto é, nos registros da POLISSEMIA e da DIFERENÇA).

É incrível como estas peças promovem uma experienciação seca, árida, mas poderosa de uma estranha maneira, até então desconhecida, em trânsitos permanentes entre diferentes intensidades, e que nos deixa sem nada nas mãos ao final (não há síntese apaziguadora ou moralizante ou catártica de nenhuma espécie; só o que nos é proporcionado é uma experiência no limite da redução, arcaica e da ordem da alteridade ao mesmo tempo, uma vivência estética primária, que sempre foi atenuada por idealizações ou por iconoclastias ao longo da história, mas que agora é servida aos ossos.

E a coisa toda não tem nada a ver com catarses ou sistemas coercitivos. Trata-se de uma experienciação muito próxima da literatura, em seu apelo pela expansão do imaginário do receptor, mas que se coloca de modo mais poderoso que a experiência literária por sua estranha modelação biofísica do tempo/espaço.

Nosso trabalho com as tragédias é o paroxismo desta nossa pesquisa, que vai na contracorrente de todas as facilidades (da ordem da significação por semelhança) e profusões de ícones em que se transformou a visualidade contemporânea. As obras são, em si mesmas, uma educação pela cena, mudando completamente o olhar daqueles que com elas entrarem em contato.

O ponto é que a dita função catártica das tragédias é APENAS A VISÃO de ARISTÓTELES sobre as tragédias (isto é, é A INTERPRETAÇÃO de um crítico acerca do sentido do fenômeno trágico). O que percebemos é que as tragédias NUNCA tiveram como função provocar catarse alguma... As tragédias de Ésquilo são a instauração poética de vertiginosos gráficos de forças de diferentes intensidades, em estranhas paisagens espaço-temporais, que inauguram uma visão heraclítica (pré-socrática) da vida, da ordem da alteridade radical em relação a nossa forma de entendermos e vivenciarmos nossa humanidade. 

Programação Completa – PEEP CLASSIC ÉSQUILO:

AS SUPLICANTES - de 8 de junho a 1º de julho
É a primeira peça de que se tem registro, em toda a história do teatro. A obra proporciona a experiência do dilaceramento de indivíduos pelos turbilhões incontroláveis das pulsões: asexualidade como enigma indecifrável. Sinopse: Um grupo de mulheres, fugindo desesperadamente de um grupo de homens que querem desposá-las, buscam refúgio em um país estrangeiro.

OS PERSAS - de 6 a 29 de julho
A obra proporciona a experiência do dilaceramento, pela guerra, de toda uma civilização. Sinopse: O gigantesco império persa, liderado por Xerxes, é aniquilado pelos gregos.

SETE CONTRA TEBAS - de 3 a 26 de agosto
A obra nos proporciona a experiência da escolha deliberada pela morte como forma de nos irmanarmos ao medo do implacável. Sinopse: Um exército, comandado por sete guerreiros monstruosos, tenta invadir e destruir a cidade de Tebas.

PROMETEU - de 7 a 30 de setembro
A obra é a proposição de uma habitação da vida (que ecoa a visão do filósofo pré-socrático Heráclito) que se configura como alteridade radical em relação a nosso modo hegemônico de estruturação psíquica. SinopsePor dar o fogo aos homens, o deus Prometeu é acorrentado por outros deuses ao cume de uma montanha, onde deverá permanecer preso por toda a eternidade.

ORESTÉIA I - de 5 a 28 de outubro
A trilogia ORESTÉIA (composta por 3 tragédias: AGAMÊMNON; AS COÉFORAS; e AS EUMÊNIDES) é a obra final de Ésquilo. Neste trabalho, o autor grego faz seu voto inevitável – posto que incontornável – em prol do caminhar para além da pulsão de morte: não se trata aqui do retorno ao útero materno, mas sim da chegada a uma instância existencial para além do homem. Sinopse: O rei Agamêmnon retorna de Tróia, após ter vencido a guerra, e é assassinado por sua esposa, Clitemnestra.

ORESTÉIA II - de 2 de novembro a 16 de dezembro  
Sinopse: Orestes, filho de Agamêmnon e Clitemnestra, volta à casa para vingar a morte de seu pai, matando a própria mãe. Em seguida, sentindo a loucura se aproximar, foge.

Para roteiro:
As Suplicantes - Estreia dia 8 de junho, sexta-feira, às 21 horas, no Club Noir.
Textos: Ésquilo. Direção e adaptação: Roberto Alvim. Com os atores da cia CLUB NOIR: Juliana Galdino, Renato Forner, José Geraldo Jr., Paula Spinelli, Ricardo Grasson, Frann Ferraretto, Jackeline Stefanski, Gabriela Ramos, Fernando Gimenes, Bruno Ribeiro, Luan Maitan e Marcelo Rorato. Produção Executiva: Danielle Cabral. Cenário e iluminação: Roberto Alvim. Figurinos: Juliana Galdino e Hélio Moreira Filho. Fotografias: Julieta Bacchin. Temporada: sextas e sábados às 21h e domingos às 20 horas. Até 1º de julho.

Local: CLUB NOIR – Rua Augusta, 331 – Consolação – tel: 3255-8448 / 3257-8129. Ingresso: R$ 20,00 inteira e R$ 10,00 meia-entrada. Duração: 40 minutos. A bilheteria abre 2 horas antes do início do espetáculo.

Um comentário:

  1. Tomara que eu possa estar em Sampa ainda este ano para assistir um desses trabalhos.

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