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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A Serpente, do Grupo Gattu, reestreia

 Foto: Lenise Pinheiro

Grupo Gattu leva sua montagem de A Serpente,

de Nelson Rodrigues, para o Teatro Ruth Escobar


Grupo Gattu leva sua encenação de A Serpente para teatro em região mais central da cidade, o Ruth Escobar, depois de encerrar parceria com a Uniban, onde mantinha sua sede.
Pesquisadores da obra rodrigueana, em 2010 o grupo foi o que mais encenou peças do dramaturgo

Desde 2001 no cenário do teatro brasileiro com suas leituras contemporâneas para textos clássicos, o Grupo Gattu volta em cartaz com seu quarto espetáculo de Nelson Rodrigues.  A Serpente reestreia dia 13 janeiro, sexta-feira, às 21h30, na sala Dina Sfat do Teatro Ruth Escobar. A direção é de Eloísa Vitz, que também está no elenco ao lado de Daniela RochaRosaElam LimaDiogo Pasquim e Laura Vidotto.

O Gattu mantinha sede no Teatro Gil Vicente, no prédio da Uniban, na Barra Funda. Com a venda da universidade para o Grupo Anhanguera, a companhia deixa o Gil Vicente e parte para novas parcerias. “O Grupo lamenta a perda de um teatro para a cidade de São Paulo, mas toma novos rumos em 2012”, declara a diretora Eloísa Vitz.

Com a temporada no Ruth Escobar, o grupo, pretende ampliar o diálogo com a plateia, experimentar um outro espaço e alcançar outro público. A montagem não sofreu grandes mudanças, “apenas algumas adaptações para o novo palco”, explica a diretora que comemora a temporada de sucesso em 2010. “A receptividade do público e a atualidade da temática foram constatadas. Nelson Rodrigues e o Grupo Gattu fazem uma parceria muito intensa e viva”, completa.

Sobre a montagem

Em tons de azul, violeta, roxo e rosa, a luz compõe a atmosfera da trama, cria ambientes distintos e marca a passagem de tempo. No som, os artistas impressionistas Erik Satie, Gabriel Fauré e Claude Debussy ajudam a compor a atmosfera de sedução. No palco, personagens sugados por uma torrente de desejos contracenam em meio a uma cama, uma escada, o para-peito e um gira-gira de parque de diversões.

A companhia - que tem se dedicado à pesquisa sobre o universo do dramaturgo, sempre em montagens que dialogam com o circo, a dança e a música, e já montou Viúva, Porém Honesta (2007), Doroteia (2008) e Boca de Ouro (2010) - recebeu aulas da técnica circense do arame (mais conhecida como corda-bamba), num treinamento fundamental, uma vez que as personagens estão sempre tentando se equilibrar nas adversidades. E o perigo do abismo as espreita.

A sedução e o erotismo são escolhas da direção e um caminho descoberto com a pesquisa. “Há muito desejo e quando as pessoas desejam criam artimanhas para conseguir realizá-los. O erotismo vem da ideia permanente do desejo. Achei por bem norteá-lo pelos desejos intensos e ardentes. Por um desejo que se é incapaz de resistir”, explica Eloísa Vitz.

 “Tivemos discussões filosóficas, sobre o desejo, a traição, o amor a tentação. Depois pesquisamos no corpo estes arquétipos. Digamos que partimos de um conceito abstrato, a ideia primordial, e expandimos para o corpo e alma. Trabalhamos os arquétipos do desejo, da paixão, da tentação, da traição”, conta a diretora.

montagem da tragédia carioca é calcada no realismo fantástico.  Eloísa Vitz optou por não carregar na tinta para intensificar a tragédia: “A história já é inevitavelmente trágica e as coisas acontecem porque são assim. Procurei manter um distanciamento para evitar julgamentos das personagens”, diz, enquanto a atriz Dani Rocha comenta o estilo mais delicado e sutil da encenadora.

Em foco, a cumplicidade obsessiva dos relacionamentos, sedução, ciúme, inveja, rejeição, abandono e solidão. “Como atores desta historia, desejamos que o público tenha diversas sensações e não somente o prenuncio de uma tragédia”, diz a atriz Daniela Rocha Rosa.

Triângulo amoroso
A Serpente, última peça escrita por Nelson Rodrigues, em 1978, conta a história de duas irmãs, Lígia (Daniela Rocha Rosa) e Guida (Eloísa Vitz), que vivem no mesmo apartamento com seus respectivos maridos, Paulo (Elam Lima) e Décio (Diogo Pasquim). Cúmplices e muito íntimas, casaram-se no mesmo dia, na mesma igreja e com o mesmo padre. Uma relação de intimidade ingênua, misteriosa e perigosa. Completa a ação a personagem Crioula (Laura Vidotto), a emprega da casa, espécie de personificação da sexualidade - já que é com ela que Décio conhece o prazer. Como ele diz, “a crioula das ventas triunfais”.

A trama gira em torno de um triângulo amoroso formado pelas irmãs e o marido de Guida. Lígia é sexualmente infeliz. Ainda virgem depois de quase um ano de casada, desfaz seu relacionamento e pensa em morrer. Para ajudar a irmã, Guida sugere a Lígia passar uma noite com seu marido. A partir daí, estabelecem-se os conflitos. É delineado um triângulo amoroso capaz de alcançar todos os extremos.

Guida, a irmã, antagonista da trama, age como a serpente do Éden ao tentar a irmã com a promessa de felicidade e prazer”, destaca a diretora. Com toques de sedução e erotismo as irmãs vão descobrindo e revelando suas personalidades. Sentimentos como ciúme, raiva, loucura vêm à tona e elas passam por uma grande transformação.

Lígia, frágil e aparentemente ingênua é carregada pelos impulsos. “É o lado mulher que todas as mulheres carregam e controlam. Da sua fragilidade reina o total desequilíbrio”, conta Daniela Rocha. Já Guida é seu contraponto. Intensa, apaixonada e decidida, é o apoio da irmã. “Guida é uma mulher feliz que vê sua felicidade escapar pelos dedos. Uma pessoa cheia de desejos que, em um momento de desespero, põe tudo a perder. É linda a maneira como esta mulher desmorona diante da plateia”, acredita Eloísa Vitz.

Erik Satie, Fauré e Debussy
A diretora conta que o grupo ouve música constantemente e, diferente de outros espetáculos, neste buscou aproximações históricas e contextualizações mais cartesianas para criar a trilha. “Dessa vez experimentei um artifício diferente. Escutávamos a música e víamos que quadro ela pintava, quais eram suas cores e formas. Então, compúnhamos as cenas com as cores da música. Digo que a música nos espetáculos do Grupo Gattu é um elemento à parte e sempre muito expressivo”, comenta, informando “que Erik Satie, Fauré e Debussy tinham as cores que desejávamos. Incluímos também algum jazz e música turca”.

O cenário, inspirado nas obras do artista plástico canadense Rob Gonsalves, é composto por uma cama - símbolo das realizações e frustrações sexuais que desorientam a vida das personagens -, uma escada, um gira-gira e um para-peito.  O grupo também buscou inspiração nas escadas do artista gráfico Maurits Cornelis Escher (1898-1972) - o mestre holandês da ilusão de ótica –, como uma metáfora aos descaminhos das personagens.

O Gattu - que já encenou 11 peças e realizou 18 temporadas (veja perfil da companhia abaixo) - costuma montar textos de autores nacionais, "obras de fundamental importância para a cultura nacional, como Jorge Andrade e Artur Azevedo". Trabalha com pesquisa de linguagem teatral, imprimindo uma leitura cênica dinâmica, estética marcante e humor inteligente.

Sobre Nelson Rodrigues
Nelson Rodrigues (1912-1980) começou a carreira no jornalismo, aos 13 anos,  em 1925, como repórter policial do jornal A Manhã, impressionando os colegas com sua capacidade de dramatizar pequenos acontecimentos. Em 1943 revolucionou a dramaturgia mundial com a peça Vestido de Noiva. Nelson Rodrigues foi jornalista, dramaturgo, romancista e cronista,escreveu 17 peças de teatro, 9 romances, 5 livros de contos e 13 livros de crônicas. Sua obra e seu gênio literário são um patrimônio da literatura brasileira.


Sobre o Grupo Gattu
O Grupo Gattu foi criado há 10 anos pela atriz e diretora Eloísa Vitz, motivada pela pesquisa teatral, investigação estética e criação de uma linguagem cênica autêntica. Com uma rotina de 30 horas semanais de ensaio, o grupo investe em pesquisa corporal utilizando técnicas diferenciadas, como Rudolf Laban, Klaus Vianna e Pina Bausch, entre outras, que são definidas de acordo com cada montagem.

Aulas e treinamentos específicos são utilizados para aprimorar a pesquisa corporal em cada montagem, como esgrima (Prof. Erwin André Leibl), técnicas circenses (Prof. Victor Merseguel), dança (Prof Fernando Magalhães) e yoga (Prof. Ana Fernandes). A técnica vocal é norteada pela pesquisa da fonoaudióloga Eudósia Acuña Quinteiro.

Por ser pós-graduada em Historia da Arte, a encenadora Eloísa Vitz, em suas montagens, dialoga com as Artes Plásticas. Investigando artistas como Pieter Bruegel, Ernst Ludwig Kirchner, William Blake, entre outros. O humor, a presença do essencial, os efeitos surpresa, o dinamismo, a sensualidade, a inovação criativa e o rigor estético estão sempre presentes em suas encenações.

A meta do grupo é alcançar todas as camadas sociais por meio de peças com temas que abordam diferentes realidades, criando identificação com a plateia e gerando interesse e desejo pela experiência teatral. A pratica de ingressos gratuitos, ou a preços populares, é exercida nestes 11 anos, para gerar inclusão social e artística.

O grupo já encenou 11 peças em 18 temporadas. Entre os principais trabalhos, estão: Teatro a Vapor, de Arthur Azevedo (2002), Vereda da Salvação, de Jorge Andrade (2004), Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente (2006), Viúva, Porém Honesta, de Nelson Rodrigues (2007), Doroteia, de Nelson Rodrigues (2008), Boca de Ouro – Nelson Rodrigues (2010).

 

Sobre a diretora

Eloísa Vitz é diretora e atriz do Grupo Gattu. Cursou a EAD – Escola de Artes Dramáticas da USP, e é Bacharel em Direito e Letras e Pós-Graduada em História da Arte. Como atriz, destacou-se no grupo TAPA com os seguintes espetáculos: As Viúvas, de Arthur Azevedo; Contos de Sedução, de Guy de Maupassant; A Importância de Ser Fiel, de Oscar Wilde eCamaradagem, de Stringberg (premiado como melhor espetáculo pela APCA 2007 - Associação Paulista dos Críticos de Arte), todas sob direção de Eduardo Tolentino. Como diretora, está à frente do Grupo Gattu, desenvolvendo um trabalho de pesquisa e montagens muito bem sucedidas. Dentre os principais trabalhos destacam-se: “Teatro a Vapor, de Arthur Azevedo – 2003 e 2004 ; “Vereda da Salvação, de Jorge Andrade – 2004 e 2005; “Viúva, Porém Honesta, de Nelson Rodrigues – 2005, 2006, 2008 e 2009 ; Game: Jogo Perigoso, processo colaborativo -  2007; Auto da Barca do Inferno – O Duelo, de Gil Vicente – 2008, Doroteia, de Nelson Rodrigues – 2009 e Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues -2010.

Para roteiro:
A Serpente – Reetreia dia 13 de janeiro, sexta, às 21h30, na Sala Dina Sfat do Teatro Ruth EscobarTexto – Nelson Rodrigues. Direção – Eloísa Vitz. Assistência de direção – Miriam Jardim. Elenco - Eloísa Vitz, Daniela Rocha Rosa, Elam Lima, Diogo Pasquim e Laura Vidotto. Até 1º de abrilIngresso – R$40,00. Censura – 16 anos. Duração – 70 minutos.www.gattu.com.br.

Teatro Ruth Escobar – Sala Dina Sfat - Rua dos Ingleses, 209. Telefone - 3289-2358. Temporada – Sextas 21h30, sábados 21h e domingos 20h. Funcionamento da bilheteria – quinta-feira das 14h às 21h, sexta-feira das 14h às 21h30, sábado das 10h às 21h e domingo das 10h às 20 horas. Site de Vendas: www.ingresso.com.br


ARTEPLURAL - Assessoria do espetáculo
Fernanda Teixeira  - 11. 3885-3671/ 9948-5355
Adriana Balsanelli - (11) 9245-4138
Douglas Picchetti - (11) 9814-6911
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