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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O TEATRO DE BRUNNO ALMEIDA MAIA Estreia literária do dramaturgo Brunno Almeida Maia perpassa temas inflados por tabus da sociedade contemporânea em duas peças teatrais.



“Uma peça ousada, com uma visão irreverente de Deus como boneco narcisista. O Anticristo é uma menina, Hanna, e seu calvário tem a ver com o consumismo e com a estupidificação da religião, com o esvaziamento de sentido da vida contemporânea. Brunno comete erros de quem está aprendendo. (...) Mas tem uma imaginação poderosa. E uma boa capacidade de criar metáforas. Ele está no começo do caminho. E promete. Em plena geração pós-MTV, movida a shopping e a seriado americano, Brunno lê Sartre, lê Artaud. Na minha pós-adolescência isso era normal. Hoje é exceção das mais excessivas”

Alberto Guzik (1944-2010), crítico teatral no blog “Os dias e as horas”, referindo-se ao último texto de Brunno Almeida Maia, “O Anticristo”, escrito aos 18 anos.



Enquanto a produção literária dos dias atuais adentra, cada vez mais, universos de extrema distinção entre si, é fato que os novos produtores precisam de algo mais para alcançar triunfo no mercado editorial. Para tal missão, Brunno Almeida Maia revira hábitos e instituições da vida contemporânea de forma inteligente e ágil em publicação da Giostri Editora, que será lançada próximo dia 18 de janeiro (sábado), das 16h30 às 19h30, no Espaço dos Parlapatões. Por sua vez, a editora é reconhecida na área da dramaturgia por publicar novos e consagrados autores, como Lauro César Muniz, Consuelo de Castro, Hugo Possolo, Gero Camilo e Ivam Cabral.

“O Teatro de Brunno Almeida Maia”, do jovem dramaturgo paulistano, traz uma coletânea de sua recente produção em duas peças: “Tristes Lembranças” e “IMUNO”.  As obras sintetizam a relação do autor com o universo da filosofia, da moda, da cultura pop, das questões políticas e sociais de nosso tempo, com temáticas transitando nos campos da biovirtualidade, controle do corpo, distopias, transexualidade, medéia revisitada, homofobia internalizada, novas morais religiosas e a idealização de paraísos artificiais.  

A ambientação proposta pelo autor traz o embate entre a questão do corpo e a presença dos desígnios divinos, do destino e das consequências dos atos à pele de personagens arquetípicas e mitológicas. A utilização de referências longínquas misturam-se a cultura pop e o cinismo dos

tempos modernos, carregados do confronto constante entre a busca pela satisfação e a auto-repressão, colocada aqui como “assassina” dos homens.  

Como no desejo dos escritores surrealistas no início do século XX, tais como André Breton em seu romance “Nadja”, os personagens de Brunno Almeida Maia desfilam nos reinos imaginários, nas metrópoles ou nos cenários idílicos e bucólicos, indagando os homens como nos tempos da Esfinge e do provoca-te a ti mesmo: “Decifra-me ou devoro-te”.


TRISTES LEMBRANÇAS

Inspirada em um noticiário verídico da BBC de Londres (grupo cria rede social para mortos), “Tristes Lembranças” narra a história de um escritor e a sua obsessão para revelar as tramas e os complexos da vida em um texto escrito com o próprio corpo. Dionísio é um jovem brasileiro que sempre sonhou em fazer uma “revolução”. Na escola, monta um grupo de teatro que ajuda na descoberta e no despertar dos jovens. Morre misteriosamente aos 45 anos de idade, com uma carreira de escritor fracassado. A peça inicia a sua narrativa no dia do velório do protagonista. Ana, a sua mãe, conta para o jornalista Augusto a história do filho, do nascimento até o desaparecimento, nos braços de um rapaz vestido de São Sebastião, durante uma alegoria religiosa no nordeste brasileiro.

Único que se interessa pelas particularidades do crime: um escritor morre amarrado a um texto chamado, “Tristes Lembranças”, a trama mostra a obstinação de Augusto em desvendar o caso, confundindo-o com a entrada de um grupo de hackers e a sua nova invenção para a tecnologia: uma rede social para os mortos.  

Antes da morte, Dionísio participa como cobaia da rede social. Recuperando o trágico desfecho de Dionísio e o espetáculo da sociedade da rede social, Augusto transforma em 48 horas o escritor (morto-vivo) em um mito carnavalesco, que participa de reality shows, programas de TV, entrevistas e desfile de escola de samba.  Augusto aluga um teatro, para representar com Dionísio-Morto a peça que nunca fora encenada, “Tristes Lembranças”. Texto escrito antes de sua morte narra a sua vida, seus medos e um destino calculado para tornar-se um anti-herói. O que Dionisio descobre nesta encenação – uma vez que a última cena ele deixou em branco – é um improvável desejo e uma paixão obsessiva que une as duas personagens: não separar a vida da arte, mas trazer a vida para a arte, escrevendo com o próprio corpo, um possível texto.

Em sua última revelação no teatro, com a presença de todas as personagens da peça como espectadoras, Augusto ridiculariza a metalinguagem – metateatro - mostrando que a transformação do corpo, a vida “real” em virtual – no além-vida – e o errático sonho de nossos tempos, de tornar-se aquilo que se deseja, desembocam em novas questões jurídicas, filosóficas, políticas e, sobretudo, da corporeidade. Afinal, o que pode o corpo? Ao narrar um hipotético futuro, com estética de romance policial e filmes noir, a preocupação com a condição humana, ou, em outras palavras, “O que estamos fazendo de nós mesmos?”.

IMUNO

Obra que se aproxima da performance, da dança-teatro e do teatro abordado por Antonin Artaud em seu “O Teatro e seu duplo”, “IMUNO” é a última parte de uma trilogia do autor, que


inclui “The Dark Room” e o “O Anticristo” (encenadas, respectivamente em 2004 e 2006, e não publicadas em livro).

A história se inicia na década de 50, no pós-guerra, com o seu desejo de progresso, modernidade e avanço, pautado por uma ciência positivista. Nasce uma jovem chamada Pandora, fruto de uma relação proibida entre um Padre e uma Freira da igreja Católica. Concebida nos porões da Santa Sé, onde as freiras grávidas deixavam os seus fetos abortados, Pandora torna-se uma testemunha e sobrevivente. A narrativa se passa em um reino imaginário, Marek, contextualizando a passagem da figura do soberano, da peste e do corpo disciplinar do século XVI - conceitos do filósofo francês Michel Foucault - para a soberania contemporânea da Biopolitica ou política da vida.

Fruto de sua geração, Pandora vive todos os ideários da década de 60 e 70, mas sente um desejo em retornar às suas origens e esclarecer a gênese de sua história. Ao voltar ao Reino de Marek, na mesma época em que o Rei tem alucinações com a chegada de uma peste que vai dizimar o seu reinado, um cientista testa novas formas de controle da população. Com ares de distopia apocalíptica, Pandora chega no momento em que o Reino perde a sua força política, com os jovens nas ruas sonhando o Maio de 1968. Em uma farsa épica e agindo como uma anti-heroína para o seu tempo, Pandora se coloca à disposição do Rei de Marek para ser a cobaia de um novo vírus, capaz de dizimar toda uma população, seus sonhos e símbolos.

Passando pelas décadas de 60´s, 70´s, 80´s, e finalmente, a queda do muro de Berlim, o dramaturgo propõe as seguintes reflexões: “Se houve uma descontinuidade entre o nosso tempo e o pensamento e a estética do regime nazifascista, somos herdeiros de quais medos e desconfianças?” “É possível imaginarmos que um delírio coletivo de libertação descortine um apoderamento, envergonhamento e despersonalização do corpo e das multidões abjetas?”.


FICHA TÉCNICA:

“O Teatro de Brunno Almeida Maia”
De Brunno Almeida Maia

Giostri Editora
Ano: 2014
1ª Edição
Páginas: 195
ISBN: 978-85-8108-326-1
Valor sugerido: R$ 40,00

SERVIÇO

Lançamento ”O Teatro de Brunno Almeida Maia”
Dia: 18 de janeiro de 2014 (Sábado)
Horário: Das 16h30 às 19h30
Local: Espaço dos Parlapatões – Praça Roosevelt, 158, Centro, São Paulo – SP.
Tel.: (11) 3258-4449




BRUNNO ALMEIDA MAIA nasceu na cidade de São Paulo, em 25 de janeiro de 1987. Filho da “geração pós-MTV” - como o definiu Alberto Guzik - transita pelas linguagens híbridas e nômades. Como estudante de Filosofia pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), dedica-se à pesquisa sobre o autor francês Georges Bataille (1897-1962); ao estudo de gênero, sexualidade e diferenças no grupo INANNA da PUC-SP, e ministra aulas sobre a relação entre a literatura e a moda, ao lado do estilista brasileiro Walter Rodrigues. Autor de “Cale-se Para Sempre” encenado em 2005 e “The Dark Room” (2002 e 2003), coordenou durante os anos de 2002 a 2007, o Espaço Cultural Alberto Levy (ECAL), em SP. Colaborou para veículos - colunista e produtor de moda - como o Portal BRRUN, Revistas Contigo, IstoÉ Gente e Lounge, e o extinto Jornal da Tarde (JT). “O Teatro de Brunno Almeida Maia” (Editora Giostri, 2013) é o seu primeiro livro publicado. 


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