Grupo de dança Primeiro Ato faz estreia nacional de Adorno no Sesc Vila Mariana com 12 bailarinos em cena e 13 músicas compostas exclusivamente para a peça
Inspirado em fotos de tribos na região do Vale do OMO, na África, o espetáculo de dança contemporânea tem concepção, direção coreográfica e direção geral de Suely Machado. Com figurino de Ronaldo Fraga e música original de Lula Ribeiro e Marco Lobo o grupo faz um percurso do primitivo ao sideral.
Adorno, novo trabalho do grupo mineiro de dança Primeiro Ato estreia dia 15 de outubro, sexta-feira, às 21 horas, no Teatro do Sesc Vila Mariana, em São Paulo. Com figurino do estilista Ronaldo Fraga, reúne 10 bailarinos no palco e música ao vivo (criada especialmente por Lula Ribeiro e Marco Lobo) com percussão, celllo, violino, piano, marimba, acordeon e as vozes de Mauricio Tizumba e Titane.
Suely Machado, diretora do grupo, teve sua primeira inspiração para o espetáculo há um ano, ao deparar com fotos feitas pelo fotógrafo Hans Silvester, que esteve durante seis meses pela região do vale do Omo, na África, e registrou o modo como os representantes das tribos Mursi e Surma se adornam.
Para os Surmaris e Mursis, uma folha, um fruto, raízes e plantas são facilmente transformados em adereços naturais e, depois, enaltecidos pela pintura corporal. Os pigmentos usados nas pinturas também são encontrados na natureza, como pedras em pó, barro e frutos vermelhos. Os habitantes das tribos se enfeitam sem fazer distinção entre masculino e feminino. Os adereços são os mesmos para homens e mulheres.
As imagens levaram Suely a uma reflexão sobre o primitivo e o sideral, na evolução do ser humano, na aproximação entre masculino e feminino, suavizando suas diferenças e apagando os fortes traços que os dividem. Uma divagação sobre passado e futuro. Pensando na África como berço da cultura, ela traça um olhar sobre o que virá, o amanhã, um futuro de transparência e abertura para a sensibilidade, um tempo em que o conceito de feminino e masculino estão mais abertos, menos definidos, mais amplos e menos pré-conceituosos.
Sobre o processo criativo, Suely Machado destaca “as fotos serviram de inspiração, mas o trabalho vai além. Ele permeia o caminho do afeto, da memória ancestral, do lúdico cada vez mais presente na evolução de nossa espécie. O humano cada vez mais valorizado pelos que querem transmutar, evoluir e reorganizar a existência”. Para acompanhar esse conceito, toda a equipe de criação dialogou muito com a criadora, do cenógrafo e iluminador aos bailarinos, que são co-autores de muitos movimentos.
Pensando no repertório do Primeiro Ato em relação a este novo trabalho, Suely analisa: “Este é o trabalho mais dançado do grupo, onde o movimento traz em si uma dramaturgia instantânea, modificadora, inédita do momento da atuação. O gesto expressa e possibilita o pensamento transformado em movimento e o espectador faz sua própria leitura do espetáculo”.
Ficha técnica em parceria
O figurinista Ronaldo Fraga optou por fazer uma criação colorida, geométrica e que, ao mesmo tempo, revelasse a pele dos bailarinos. Pensando na geração futura como a geração da sensibilidade à frente dos outros sentidos, e na pele como órgão sensível, ele buscou tecidos com a transparência do tule e o caimento da organsa que, junto com a luz, brincam com a sombra e a silhueta, a fantasia e a imagem real para confundir o espectador sobre o que é pele e o que é tecido. Sem perder o medo das cores e das formas mais puras e geométrica, ele optou por são coloridas, apesar de transparentes, para trazer um pouco de África, do primitivo. As cores predominantes são amarelo, vermelho e ocre.
Para o iluminador Jorginho de Carvalho o trabalho principal foi criar uma luz que dialogasse com essa transparência do figurino, que potencializasse as nuances e os contornos dos corpos, também sem abrir mão das cores. O cenário de Guilli Seara faz uma intensa parceria com o figurino e a luz e utiliza tules e transparências em formatos alongados como sugestão de velas, das caravelas que fizeram a ponte da África para o Brasil.
“A trilha sonora está irrepreensível”, esta foi a observação de Ronaldo Fraga ao ouvir as 12 músicas que permeiam o espetáculo. Criada por Lula Ribeiro e Marco Lobo, com percussão, celllo, violino, piano, marimba, acordeon e as vozes de Mauricio Tizumba e Titane. A trilha foi toda criada em cima da coreografia já finalizada.
Os 10 bailarinos, Alex Dias, Ana Virginia Guimaraes, Cibele Maia, Danny Maia, Júnio Nery, Luciana Lanza, Lucas Resende, Marcela Rosa, Pablo Ramom, Thiago Oliveira, Verbena Cartaxo, Verônica Santos também são criadores de ADORNO, segundo Suely, “a coreografia partiu de movimentos criados por eles. Eles são a origem da minha criação.”
A trajetória do Primeiro Ato
Fundado por Suely Machado na década de 80, em Belo Horizonte (MG), o Primeiro Ato tem 15 obras no repertório. Com 21 anos de trajetória, a Companhia já se consolidou como um dos mais expressivos e duradouros grupos de dança contemporânea, com trânsito nacional e internacional. Sempre buscou a dramaturgia do gesto
O repertório do grupo já cumpriu temporadas em diversos estados brasileiros e apresentações nos Estados Unidos, Espanha, Portugal, Argentina e Alemanha, além de ganhar diversos prêmios regionais e nacionais. O Primeiro Ato mantém um núcleo de formação de bailarinos com 450 alunos; a escola, ao longo dos anos, também alimenta o grupo com novos talentos. Além deste projeto de formação, o grupo tem dois projetos sociais focados na recuperação da auto-estima de jovens através da dança.
Para roteiro
ADORNO – Dias 15 e 16 de outubro às 21h e dia 17 de outubro às 18h, no Teatro do Sesc Vila Mariana. Com o Grupo de Dança Primeiro Ato. Concepção, Direção Coreográfica e Direção Geral: Suely Machado. Elenco: Alex Dias, Ana Virginia Guimaraes, Cibele Maia, Danny Maia, Júnio Nery, Luciana Lanza, Lucas Resende, Marcela Rosa, Verbena Cartaxo, Verônica Santos. Assistente de Direção: Marcela Rosa. Estudo do Movimento: Alex Dias. Arquitetura do Movimento e elenco: Alex Dias, Ana Virginia Guimaraes, Cibele Maia, Danny Maia, Júnio Nery, Luciana Lanza, Lucas Resende, Marcela Rosa, Pablo Ramom, Thiago Oliveira, Verbena Cartaxo, Verônica Santos. Desenho de luz: Jorginho de Carvalho Operação de luz: Elias do Carmo. Assistente técnico: Alon Caetano. Cenotécnico: Roberto Duque. Figurino: Ronaldo Fraga. Trilha Sonora: Lula Ribeiro e Marco Lobo. Canto: Mauricio Tizumba e Titane. Novas tecnologias e cenário: Guilli Seara. Produção: Regina Moura. Artista colaboradora do processo: Inêz Vieira.
SESC VILA MARIANA - Rua Pelotas, 141. Vila Mariana. Telefone: 11 5080 3000. Duração: 60 minutos. Classificação etária: 12 anos. Ingressos – R$ 16,00 (inteira); R$ 8,00 (usuário inscrito no SESC e dependentes, +60 anos, estudante e professor da rede pública de ensino). R$ 4,00 (trabalhador no comércio de bens e serviços matriculado no SESC e dependentes). Capacidade: 643 lugares. Estacionamento no local: R$5,00 a primeira hora e R$ 1,00 por hora adicional (não-matriculados).
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