Translate

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Depois do Festival de Curitiba, Rózà estreia na Casa do Povo, no Bom Retiro, dia 18 de abril

O público é convidado a entrar em uma instalação cenográfica que reproduz a casa e a prisão onde Rosa passou parte de sua vida. Na montagem, as atrizes cantam e tocam como uma banda de rock. Entre as imagens gravadas na Berlim de hoje (ela viajaram para a Alemanha especialmente para filmar para a peça), textos políticos e discursos de Rosa Luxemburgo.Adaptação foi feita por meio de improvisações, trechos das cartas de Rosa, incluindo até partes da troca de correspondência entre integrante do grupo de punk feminista russo Pussy Riot e o filósofo esloveno Slavoj ŽižekPolonesa naturalizada alemã, Rosa era judia, militante cosmopolita, oradora e antimilitarista. Foi brutalmente assassinada em 1919, poucos dias após deixar a prisão e assumir a linha de frente da revolução alemã.

De temperamento caloroso e apaixonado, a polonesa naturalizada alemã Rosa Luxemburgo (1871-1919) -  uma das principais revolucionárias do século 19, defensora intransigente da democracia - é a centelha projetada pelo espetáculo Rózàpara tratar das Rosas de todos os tempos. Com direção e adaptação de Martha Kiss Perrone e Joana Levi, a peça estreiadia 18 de abril, sexta-feira, às 20 horas, na Casa do Povo, no Bom Retiro, depois de participar do Festival de Teatro de Curitiba.

O espaço, fundado em 1949 por judeus provenientes da Europa Oriental, vive atualmente processo de retomada de suas atividades, com iniciativas ligadas à cultura contemporânea, se reinventando como um local de experimentação para a cidade de São Paulo. A temporada acontece entre os dias 18 de Abril e 11 de Maio de 2014 as sextas, sábados e domingos às 20h.

Com idealização, co-direção e coordenação de dramaturgia de Martha Kiss Perrone, pesquisa e colaboração dramatúrgica de Roberto Taddei, o espetáculo traz no elenco Lowri Evans, Lucia Bronstein e a própria Martha Kiss Perrone. Renato Bolelli assina a instalação coreográfica, enquanto Dani Porto é responsável pelos figurinos.

Boa parte das cartas e discursos de Rosa Luxemburgo que estão no espetáculo são inéditas no teatro. Em 2011, pela primeira vez no Brasil, foi publicada uma coletânea de cartas de Rosa Luxemburgo, traduzidas dos originais em polonês e alemão e organizadas por Isabel Loureiro.

“Como nossa pesquisa começou antes do lançamento da primeira publicação no Brasil, as primeiras cartas que entramos em contato foram traduzidas por Martha Kiss Perrone do francês, a partir de uma edição chamada Cartas de Prisão que influenciou muitas gerações de militantes durante décadas”, explica Martha.

Para dar vida às cartas escritas por Rosa Luxemburgo durante o período em que esteve nas prisões alemãs do começo do século 20, a encenação de Rózà une diferentes recursos dramatúrgicos – teatro, vídeo, música e performance. Por isso, as diretoras e atrizes definem o espetáculo como multimídia, que une artistas de diferentes áreas para encenar as palavras poéticas e políticas de Rosa.

Suas cartas são interpretadas por três atrizes diferentes e trazidas ao público por meio da palavra, do vídeo e da música na busca de uma relação sutil e particular entre o momento histórico e o contemporâneo. A ação acontece em uma instalação cenográfica de madeira e plásticos, como uma tenda, inspirada nas Cosmococas (série de obras de Hélio Oiticica e Neville d´Almeida - 1973). Este espaço reproduz a prisão e a casa de Rosa, onde o publico - em uma relação intimista com as atrizes - é convidado a entrar.

A encenação
A montagem apresenta a RÓZÀ BAND, formada pelas atrizes Lowri Evans, Lucia Bronstein na guitarra e no baixo e o diretor de som Edson Secco na bateria. Além da banda tocando ao vivo, são usadas bases eletrônicas para pontuar os sons de prisão. “A trilha musical inclui peças de outros compositores contemporâneos. A cantora Ligiana Costa interpreta a canção composta por ela e inspirada no assassinato de Rosa Luxemburgo.

Os vídeos e músicas são também recursos de dramatúrgicos no espetáculo. As imagens são projetadas nas paredes e muros da prisão de Rosa como se fossem situações externas, imaginadas ou sonhadas por Rosa. “Procuramos um encontro do gesto de Rózà com a projeção, o vídeo como uma camada visual de nossa personagem.

Durante o processo de criação e improvisação nos ensaios, as cenas foram construídas em conjunto com o vídeo e a música, o que fez com que o espetáculo se tornasse também uma experiência sensorial”, afirma Martha Kiss Perrone, que viajou comMarilia Scharlach, diretora de fotografia, e Lowri Evans para Berlim por 15 dias, especialmente para filmar cenas que são projetadas no espetáculo.

Veja teaser da filmagem em Berlim - https://vimeo.com/89511717 “Procuramos um encontro do gesto de Rosa com a projeção, o vídeo como uma camada visual de nossa personagem.

A montagem coloca passado histórico e o presente juntos, questões contemporâneas em permanente conflito. Mesclando documentário e ficção, as imagens entram no espetáculo como situações paralelas da vida de Rosa na cidade, fazendo referência à metrópole atual.

São projetadas paisagens urbanas, e jardins que Rosa frequentou, além de entrevistas e leituras de cartas gravadas pelas próprias atrizes. “A fronteira dessas linguagens geraram as imagens e cenas do espetáculo, criado principalmente a partir de improvisações e proposições das interpretes”, fala Martha Kiss.  

“Os figurinos de cada Rózà evocam arquétipos de diferentes mulheres fortes de ontem e hoje. Nos inspiramos na época de Rosa Luxemburgo quando usamos vestidos longos, mas também em cantoras pop da atualidade, como as roqueiras do Pussy Riot. A iluminação é baseada em luzes brancas, retroprojetores e a própria luz das projeções.”

Improvisações e Pussy Riot
O processo de criação de Rózà passou por muitas fases. “Mergulhamos no universo de Luxemburgo, tendo como base suas cartas. Esta escolha nos conduziu por um caminho híbrido, tanto em termos temáticos quanto de linguagem, nos deparamos com um discurso ao mesmo tempo íntimo e público, literário e performático, apaixonado e sanguinário, imagético e extremamente sensorial. Rosa como ela mesma diz é “uma terra de possibilidades ilimitadas. Tamanha potência contaminou nossas mentes, corpos e corações exigindo que a cena rompesse os limites da linguagem teatral”, explica Joana Levi.

A adaptação das cartas se desenvolveu em duas etapas: primeiro por meio de improvisações e proposições das próprias atrizes durante os ensaios iniciais. “As palavras de Rosa foram transformadas em imagens, ações e músicas”, explica Martha Kiss. “Descobrimos, assim, como transpor as palavras desta mulher (da virada do século XIX) para as nossas próprias palavras e questões.

Em seguida, em um trabalho mais textual, chegamos a uma síntese de cada carta e criamos encontros de diferentes cartas em uma mesma cena. Usamos também alguns trechos de uma carta de Nadezhda, integrante do grupo de punk rock feminista russo Pussy Riot (que encena, performances de provocação política), para o filósofo teórico crítico esloveno Slavoj Žižek(professor da European Graduate School), escrita em 2013, período em que esteve presa.”

Para a atriz e co-diretora Martha, “Rózà é uma peça sobre a paixão de Rosa, conhecida como Rosa, a vermelha, mas também sobre a mulher de hoje e do agora que, como ela mesma diz, não tem medo e quer tudo. Nas cartas deixadas por ela, e editadas muitos anos depois, estão as questões que queremos encenar: as paixões e os sonhos de ontem e hoje”.

“Como resposta à multiplicidade de Rosa, criamos uma estrutura que reúne teatro, performance, artes visuais e música. As cartas de Rosa foram ‘traduzidas’ em ação, imagem, som e palavra. Nosso texto é composto por meio destes suportes, que se articulam formando uma língua híbrida e pessoal, como a que encontramos nas cartas de Rosa. A dramaturgia é resultado deste tecido feito de corpo-som-imagem, criando uma estrutura que se desenvolve como uma espécie de máquina do desejo”, complete Joana Levi.

Passado e presente
Em 2009, a diretora Martha Kiss Perrone – que também atua, ao lado de Lowri Evans e Lucia Bronstein - fez estágio durante um ano no Théâtre du Soleil, em Paris, onde acompanhou o processo de criação do último espetáculo do grupo, Os Náufragos da Louca Esperança. Durante os ensaios, a partir de uma questão que Ariane Mnouschkine (diretora do Théâtre du Soleil ) fez sobre mulheres militantes do início do século, Martha começou a pesquisar sobre Rosa Luxemburgo da qual já tinha lido uma biografia.

De volta ao Brasil, Martha entrou em contato com as cartas da prisão, “que são documentos humanos e poéticos impressionantes” e teve a ideia de fazer um espetáculo a partir das cartas de Rosa, que reunisse artistas de diferentes áreas como cinema, música e performance.

“A figura de Rosa na peça congrega várias Rosas: a Rosa que viveu no fim do século 19 e começo do 20 e as Rosas que vivem hoje. Sobre a nossa perspectiva, a Rosa é também contemporânea em um mundo onde vidas e lutas se fundem. Começamos os ensaios com o desejo que o espetáculo fosse resultado do encontro entre as atrizes e as cartas deixadas por Rosa.”

Martha continua: “Partimos da seguinte pergunta: como a figura da Rosa nos atravessa hoje? Resgatar a figura desta mulher para nossos corpos de hoje. Curiosamente quando fomos para Berlim, em junho de 2013, para filmar cenas para a peça, a Rosa nos apareceu no Brasil durante as manifestações de junho”.

Marta comenta que, “a cada momento de revolta, em todo canto do mundo sem dúvida nos traz o espectro de Rosa, o seu fogo revolucionário. E este espectro de Rosa está pairando sobre tantas manifestações pelo mundo, diante de tantos ativistas presos como ela. Em seu ultimo artigo, horas antes de ser assassinada, Rosa nos deu uma pista quando diz: “Eu fui, eu sou, eu serei”.

Para o dramaturgo Roberto Taddei, nas cartas de Rosa Luxemburgo é possível ver claramente uma intenção literária. “Ela procura sempre trazer o leitor da carta (um amigo, um parente, um amante) para dentro de um universo específico. Assim, há uma preocupação de recriar o estado emocional ou de descrever o ambiente em que ela se encontra, geralmente utilizando exemplos literários ou construções literárias intensas”.

Taddei enfatiza a relação de Rosa com a literatura, com Tolstoi, Goethe e os poetas românticos alemães. De acordo com o diretor, “trabalhar com as cartas significou, principalmente, encontrar essa mulher que parecia muito mais espontânea, complexa e rica nesses registros epistolares do que nos ensaios críticos. A partir das cartas, foi possível também entender um movimento mais amplo na vida da Rosa, desde os anos de juventude e formação até às vésperas de sua morte, e com isso entender melhor a riqueza dela.”

Roberto Taddei completa que “foi muito satisfatório, revelador e emocionante perceber os paralelos entre o caminho pessoal da Rosa e os conflitos sociais que continuam a provocar comoções populares em grande parte do mundo ainda hoje. Encontrar esses pontos de conexão nas cartas pessoais nos indicava que ali, mais do que em qualquer outro lugar, estava a verdadeira Rosa, a potência do legado humanista e revolucionário da Rosa Luxemburgo”.

Sobre Rosa Luxemburgo
Judia, militante cosmopolita, oradora famosa e antimilitarista, foi brutalmente assassinada em 1919, poucos dias após deixar a prisão e assumir a linha de frente da revolução alemã. Era capaz de conquistar todos que se aproximassem dela sem preconceitos, intimidando, entretanto, aqueles que não se sentiam à sua altura.

A luta implacável de Rosa Luxemburgo contra a guerra, e o radicalismo com que insistia no vínculo entre liberdade política e igualdade social não perderam sua força até hoje. Participou na fundação do grupo de tendência marxista que viria a tornar-se, mais tarde, o Partido Comunista Alemão. Foi assassinada brutalmente e teve seu corpo jogado em um Rio na Alemanha.

Ficha Técnica:
Concepção e Idealização: Martha Kiss Perrone. Direção: Martha Kiss Perrone e Joana Levi. Atrizes: Lowri Evans, Lucia Bronstein e Martha Kiss Perrone. Assistente de Direção: Olívia Niculitcheff. Coordenação Dramaturgica: Martha Kiss Perrone. Pesquisa e Colaboração Dramaturgica: Roberto Taddei. Instalação Cenográfica: Renato Bolelli Rebouças. Criação Vídeo: Marília Scharlach.Direção Musical: Edson Secco. Composição: Edson Secco e Ligiana Costa.Preparação Vocal: Ligiana Costa.Iluminação: Beto de Faria.Figurino: Daniela Porto. Ass. de Arte: Camila Vieira e Dora Coelho.Programação Visual: Carlos Perrone e Sami Makino. Colaboração visual projeto: Ana Basaglia.Cenotécnico: Valdeniro Pais (Nene).Direção de Produção - José Renato Fonseca de Almeida.Produção Executiva: Cais Produção Cultural.Co-Produção e Patrocínio: Busca Vida.Ass. de Produção: Beto de Faria. Produção durante os ensaios: Valéria Blanco.  Vídeo: http://vimeo.com/89511717


Serviço:
Rózà – Estreia dia 18 de abril, sexta, às 20 horas, na Casa do Povo. Temporada de 18 de abril a 11 de maio. Sextas, Sábados e Domingos às 20 horas. Rua Três Rios, 252, Bom Retiro. (11) 3311-6577. Capacidade: 50 lugares. Ingressos: R$ 30,00 (inteira), R$ 15,00 (meia). Duração: 80 minutos.Classificação: 12 anos.

Arteplural Comunicação
11.3885-3671 –
Fernanda Teixeira - 99948-5355
Adriana Balsanelli - 99245-4138
Renato Fernandes - 97286-6703

Nenhum comentário:

Postar um comentário