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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Comunidade de Heliópolis é cenário de peça que recria universo de Tarantino

Gratuita, a peça Vira-Latas de Aluguel começa a ser encenada dentro da
van que leva o público do Sesc Ipiranga até Heliópolis. Inspirada no primeiro
filme de Quentin Tarantino, tem direção de Daniel Gaggini e elenco
formado por atores que têm ligação com a comunidade.

Um boteco, um salão transformado em igreja evangélica e um beco na comunidade de Heliópolis, na zona Sul de São Paulo, são os locais escolhidos como cenário de Vira-Latas de Aluguel, espetáculo teatral dirigido por Daniel Gaggini, diretor do prestigiado festival Cine Favela de Cinema, projeto dedicado à difusão do cinema periférico do Brasil e do mundo. A peça – queestreia dia 25 de outubro, sexta-feira, às 20 horas - foi inspirada em Cães de Aluguel, primeiro longa-metragem do diretor americano Quentin Tarantino.

As sessões acontecem de sexta a domingo, a partir das 20h. Para garantir seu lugar na plateia, o espectador precisa reserva ingresso por telefone ou email: (11) 3141-1595 / 11 98483-8263 e viralatasdealuguel@gmail.com .

Para facilitar a ida do público, a produção disponibiliza uma van - com lotação de 15 pessoas - que sai do Sesc Ipiranga, às 20 horas em ponto (Rua Bom Pastor, 822), e segue para o Metrô Sacomã (saída para a Rua Bom Pastor) às 20h10, exatos dez minutos depois. O trajeto até Heliópolis dura cerca de 10 minutos. A peça começa dentro da van, no caminho até a primeira locação, um bar. No decorrer do espetáculo, o público caminha poucos metros até a sede do Cine Favela, a segunda locação, ambientada como uma igreja.

A peça é fruto do projeto de capacitação teatral iniciado em fevereiro deste ano, com 115 inscrições. Com a finalidade de estimular a cultura e a formação de atores, foram selecionados 30 atores para frequentar, gratuitamente, vivências nas artes cênicas. Destas oficinas, 16 atores (que receberam bolsa de R$ 500,00) foram escolhidos e trabalharam em processo colaborativo para a montagem da peça.

Finalmente, foram selecionados 10 atores para compor o elenco - Ana Carolina, Aga Orimaf, Bruno Ribeiro, Cesar Filho, Diego Renan, Eduardo Ferreira, James Calegari, Klaviany Cozy, Luciano José e PC Marciano. Para dar veracidade às cenas de luta, eles passaram por preparação corporal, com aulas de artes marciais – especificamente de Kung-Fu, que remete plasticamente aos filmes de Tarantino, principalmente Kill Bill.

O grupo recebeu aulas de Interpretação e Voz, com Imara Reis; Corpo, com o ator e mestre em Kung-Fu Mario Luiz; Direção de Arte, com a figurinista e cenógrafa Carol Bertier; Clown, com o ator Caco Mattos; Interpretação de Texto, com a tradutora Luciana Rossi; e Produção, com Daniel Gaggini. Todas as oficinas foram realizadas na sede do projeto sociocultural Cine Favela, na Comunidade de Heliópolis.

Escrito a partir de improvisações, o texto passou por um pente fino, ou melhor, uma revisão feita pelos próprios manos da comunidade, pois o objetivo principal da montagem é trazer o filme para o universo de Heliópolis e garantir uma linguagem convincente.

Do cinema para as ruelas de Heliópolis
Na trama, um bando é chamado para roubar uma carga que está sendo transportada pelos Correios. No ato do roubo, dá tudo errado, e alguns bandidos começam a suspeitar que há um infiltrado entre eles. Além disso, descobrem que a carga não é bem o que pensavam e passam a suspeitar que foram também traídos pelo Patrão, o chefe do bando.

A obra de Tarantino funcionou como um dos propulsores do espetáculo, mas o principal intuito é levar o universo de Cães de Aluguel para a comunidade, ressaltando as características de Heliópolis na encenação.  “Os personagens são moradores da região e suas histórias se confundem com a história do bairro. A forma como os moradores se comunicam é fruto de intensa pesquisa, que leva ao palco os sons das ruas, a música alta que impede de escutar qualquer outra coisa. A trama amarra no contexto questões sociais, políticas e religiosas”, enfatiza Daniel Gaggini.

Os figurinos incorporam elementos que identificam os personagens em estilo, forma e função na trama. A intenção é refletir um pouco sobre essas figuras reais que vivem em Heliópolis, como se vestem no dia a dia em suas atividades rotineiras. O cenário muda de acordo com as ações: o primeiro é um típico boteco de sinuca, depois muda para a sede do Cine Favela, transformada em uma igreja evangélica, e se encerra na rua. Já a trilha sonora incorpora a música que vem de todos os lados, como o funk em um volume ensurdecedor. Uma sequência de tortura ganhou versão mais dramática por ser embalada por uma composição erudita.

“O realismo é o cerne da montagem. Ao escolher trabalhar com uma história que se passa na comunidade, o objetivo foi integrar o espaço externo ao espetáculo. No boteco em que acontece a primeira cena, o público terá a oportunidade de assistir aos atores interpretando, mas também de compartilhar espaços com os frequentadores do lugar, ouvir a música que eles escutam, andar nas calçadas, observar como os carros disputam passagem entre as ruelas”, diz o diretor.

Em um balcão abandonado, Mr. Blonde (Michael Madsen) quer saber qual dos seus companheiros é o traidor. O roubo deu errado, e sua mente tem apenas um único pensamento: descobrir a verdade. Ele não mede esforços, dança ao som de Stuck In The Middle With You, da banda Stealers Wheel, pega a navalha e começa a tortura em um policial, que também leva um banho de gasolina. Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992) é referência do cinema independente e abriu as portas do mundo para o diretor – inclusive, a produção foi um dos destaques da 16ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (1992).

Em 2012, uma vivência realizada em Heliópolis exibiu clássicos do cinema, e o filme Cães de Aluguel, de Tarantino, foi o que mais despertou interesse nas pessoas. Por conta dessa reação, o diretor resolveu criar um projeto de capacitação de atores para a montagem do espetáculo. Foi assim que nasceu o Vira-Latas de Aluguel.

Para criar a atmosfera da peça, os participantes tomaram contato com filmes que serviram de inspiração para Tarantino criar sua obra de estreia: O Grande Golpe (The Killing– 1956), de Stanley Kubrick; Caminhos Perigosos (Mean Streets– 1973), e Os Bons Companheiros (GoodFellas – 1990), ambos do cineasta Martin Scorsese. Outra fonte de inspiração esteve na leitura dos clássicos Cão Come Cão, de Edward Bunker, e Atire No Pianista, de David Goodis. Os selecionados também assistiram a peças de várias vertentes e linguagens, do espetáculo de rua Barrafonda (Cia. São Jorge) a um grande musical da Broadway em cartaz em São Paulo.

Para incorporar o espírito da montagem, os atores visitaram os principais pontos de Heliópolis e se aprofundaram nas relações e conhecimento do local durante a preparação. Todas essas experiências funcionaram para o desenvolvimento de repertório e colocaram em pauta assuntos abordados em cena. Preconceito racial, irmandade, comunidade, família, humor, religião, o policial corrupto, a questão das drogas, o humor, todos esses ingredientes fazem parte da dramaturgia e da encenação.

“Foram meses e meses até chegar nos 10 atores que fazem o espetáculo. Foi um período de dedicação por parte de todos. É extremamente gratificante chegar ao produto final, pois temos certeza de que o processo nos enriqueceu e nos tornou melhores pessoas e melhores profissionais”, finaliza o diretor.


Sobre Daniel Gaggini
Ator por formação, atuou e produziu mais de 20 espetáculos teatrais, mas, desde 2008, vem diversificando sua área de atuação, principalmente na difusão cultural e cinematográfica, tendo recebido mais de 40 prêmios. É curador e produtor do FESTIVAL CINE FAVELA DE CINEMA, que, neste ano, chega a sua 8a edição ininterrupta e é considerado o maior evento dedicado ao cinema periférico do mundo; do FESTIVAL POP DE CINEMA e do FESTIVAL DE CINEMA DE SANTA CRUZ DO SUL-RS, todos focados na difusão do cinema nacional e na capacitação de jovens e adultos na Sétima Arte. É também um dos curadores da área de cinema do 17a FESTIVAL CULTURA INGLESA.

No final de 2012, lançou seu primeiro filme, o longa-metragem SATYRIANAS, 78 HORAS EM 78 MINUTOS, um mockumentary que tem como ponto de partida um dos principais eventos culturais de São Paulo, organizado pela Cia. Os Satyros, do qual foi membro por mais de 04 anos, na fase europeia da companhia. O filme, que teve sua première mundial no FESTIVAL DO RIO e foi um dos 05 documentários mais votados na 36A MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SP, será lançado comercialmente em junho, com distribuição da VITRINE FILMES.

Outros projetos idealizados na área de difusão cinematográfica: Curta na Praça, evento que integra cinema, teatro, circo, dança e música e que é realizado no espaço dos Parlapatões (de 2008 a 2010); CINEMIX, braço cinematográfico do maior evento cultural da cidade de São Paulo, a Satyrianas,além de curadorias para sessões realizadas em unidades da rede SESC-SP.

Na TV, poderá ser visto em julho no canal ESPN, no telefilme Ouro, prata, bronze e... chumbo, com roteiro e direção de José Roberto Torero e direção de fotografia de Zé Bob EliezerNa Rede Globo, atuou nas minisséries Afinal, o que querem as mulheres, de Luiz Fernando Carvalho e Hilda Furacão, de Wolf Maya, nas novelas Sete Pecados, Uga Uga e Malhação; e no seriado Retrato Falado. Também atuou na série Mothern (GNT), Somos Um Só(TV Cultura) e nas novelas Luz do Sol (Record) e Razão de Viver (SBT).
  
Para Roteiro:
Vira-latas de Aluguel – Estreia dia 25 de outubro, sexta-feira, às 20 horas na Comunidade de Heliópolis. Sede Cine Favela: Rua do Pacificador, 288 - CEP: 04235-020 - Heliópolis – São Paulo – SP. Contato Para Reservas: (11) 3141-1595 / 11 98483-8263 ou pelo e-mail: viralatasdealuguel@gmail.com.Capacidade: 21 pessoas. Temporada: Sábados e domingos às 20hs até 15 de dezembro. Volta em cartaz no dia 11/01/14 e finaliza a temporada no dia 09/02/14.

Pontos por onde passa a van
Sesc Ipiranga: Rua Bom Pastor, 822 – Ipiranga, às 20h
Metrô Sacomã: Saída Rua Bom Pastor. O espectador deve estar em um destes endereços às 20 horas.

Ficha Técnica:
Concepção e Direção: Daniel Gaggini.  Daniel Gaggini. Texto: Processo Colaborativo feito a partir de vivências com os atores. Elenco: Ana Carolina, Aga Orimaf, Bruno Ribeiro, Cesar Filho, Diego Renan, Eduardo Ferreira, James Calegari, Klaviany Cozy, Luciano José e PC Marciano. Diretora Assistente: Luciana Rossi. Direção de Arte: Carol Bertier. Preparação Corporal: Mario Luiz.Preparação de Elenco: Caco Mattos. Trilha Sonora: Luciana Rossi e Daniel Gaggini. Recomendado para maiores de 16 anos.

ARTEPLURAL – Assessoria de imprensa Fernanda Teixeira - 11. 3885-3671/ 9948-5355
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