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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Ednei Giovenazzi faz 60 anos de carreira com clássico de Tchekhov e direção de José Henrique

Sobre o prazer de fazer teatro, O Canto do Cisne apresenta - com ironia,
humor e linguagem despojada - um ator que faz retrospecto de sua vida e carreira.
Estreia dia 13 de setembro, no Teatro Eva Herz. Texto integra a seleção
de peças curtas do escritor e dramaturgo russo, um dos mestres do conto moderno.


O espetáculo termina. O elenco deixa o teatro. Embriagado, o ator cômico adormece no camarim e lá é esquecido. A partir daí, a plateia acompanha Vassíli Vassílitch Svetlovíd num balanço de seus 78 anos de vida, dos quais 55 dedicados à arte de interpretar. No palco vazio, o personagem alterna momentos de nostalgia e euforia, quando recorda momentos importantes da carreira. Ao se descobrir só na escuridão do teatro, encontra sentido para manter-se vivo ao reviver grandes personagens da dramaturgia universal.

Na história de O Canto do Cisne, de Anton Paolovitch Tchekhov (1860-1904), a metalinguagem está no centro da trama: o público que ouve Svetlovídov (Ednei Giovenazzi) está na plateia para a ver O Canto do Cisne, onde um ator representa o papel de um ator, que por sua vez representa outros papeis. O espetáculo estreia dia 13 de setembro, sexta-feira, no Teatro Eva Herz, em uma encenação do diretor José Henrique, com o ator Ednei Giovenazzi como protagonista. A peça marca a segunda incursão de Ednei na dramaturgia tchekhoviana. A primeira foi em O Jardim das Cerejeiras, ao lado de Cleyde Yáconis e Walderez de Barros, ícones do teatro brasileiro

Ednei reflete sobre seu personagem: “Trata-se de um velho ator, em fim de carreira, com suas mágoas e suas alegrias. É um balanço de uma carreira de 55 anos. Fazer o personagem nos leva ao entendimento da sua alma  e do mundo que o cerca, de suas aspirações e  seus desencantos”. O ator revela estar vivendo uma nova experiência aos 60 anos de profissão. “O encontro com o José Henrique mostrou que somos duas pessoas apaixonadas pelo teatro. Nosso objetivo foi chegar a um espetáculo, em primeiro lugar, agradável, fiel  ao autor, Tchekhov, e instigante.”

Em alguns momentos, a vida do personagem e de Ednei Giovenazzi se cruzam. Na peça, existem cenas de O Mercador de Venezade William Shakespeare; e Mozart e Salieri, de Alexander Pushkin. São espetáculos que fazem parte do repertório do protagonista e do currículo ou da escolha pessoal do ator.

O ator Pietro Mário interpreta um personagem emblemático - o velho ponto - nesse “estudo dramático em um ato”, conforme a definição do próprio autorEncarregado de acudir os atores em cena, caso falhasse a memória, o ponto estava lá - à frente do palco, sob o assoalho, protegido por uma caixa, a partir de um pequeno alçapão na ribalta – pronto, soprando as falas em voz baixa.

José Henrique enfatiza que esse papel também questiona os dilemas do teatro. “Além de servir como orelha para o protagonista, existe uma reflexão sobre as carreiras paralelas do teatro, dos profissionais que o público desconhece, mas que são tão essenciais à arte quanto o elenco. O Ponto nunca recebe aplausos ou flores, mas sua vida também se constrói de sucessos e fracassos, em paralelo a dos artistas. É um servidor anônimo da arte, quase um equipamento do teatro.”

Com todos os elementos típicos da poética tchekhoviana - a brevidade, a economia dos procedimentos, a linguagem despojada, a ironia, o humor e o aprofundamento psicológico das personagens -, esta peça é “uma obra curta sobre o prazer de se trabalhar em teatro, que não pede nenhum ornamento, além da atuação do elenco.

O cenário é o próprio teatro onde se encena a peça, despojado de vestimenta cênica, telões ou adereços. Há dois planos de linguagem: a história que se passa entre os dois personagens (ator e ponto) e as cenas  em que o velho ator recorda-se de sua carreira. O que une esses dois planos é o espaço comum do palco onde todas as histórias se entrelaçam”, fala o diretor.

Fazendo coro à fala do protagonista “onde existe talento, não há velhice”, José Henrique analisa que “os breves momentos em que os dois antigos profissionais de teatro revivem seus tempos mais gloriosos surgem, portanto, como uma espécie de recreio da velhice, um intervalo de juventude e energia no cotidiano de ambos. A ironia, ao mesmo tempo divertida e patética, está nessa polaridade entre os dois tempos representados: o  presente e o passado”.

Em alguns momentos, a vida do personagem e a de Ednei Giovenazzi se cruzam. Na peça, há uma cena de O Mercador de Venezade William Shakespeare; espetáculos que fazem parte do repertório do protagonista e do currículo do ator.

Para José Henrique, “Ednei Giovenazzi é mais do que um ator desta montagem, é a verdadeira razão de estarmos fazendo a peça. Daí havermos inserido cenas de O Mercador de Veneza, que, por escolha dele, passaram a integrar o repertório de Svetlovídov”. Outra inserção, a pedido de Ednei, foi o monólogo de Salieri sobre Mozart, de Puchkin, para substituir um poema do mesmo autor, Poltava, de pouca expressividade entre nós.

O diretor ressalta não estar biografando o Ednei, ou exibindo algum virtuosismo dele. “Ao contrário: fomos atrás das técnicas de desempenho dos grandes atores dos séculos XVIII e XIX, para que o Ednei fizesse em cena o que nunca fez em sua carreira, mesmo em papéis já dominados.”

Ednei Giovenazzi conta que há um sentimento especial em participar dessa montagem. “O teatro é generoso, só o que for bom, ou seja, esclarecedor da natureza humana, resiste ao tempo. E este texto  de Tchekhov é apaixonante em si, a finitude do ser humano é comovente.

Ednei dedica O Canto do Cisne inteiramente “ao grande ator Sergio Brito, que aspirava interpretá-lo e não houve tempo".

Sobre o texto e o autor
A peça O Canto do Cisne foi escrita a partir do conto Calcas, publicado em 1886. Em definição do próprio Tchékhov (1860-1904), se trata de uma peça para ser representada em quinze, vinte minutos. Ele a escreveu em uma hora e cinco minutos. A primeira versão, publicada em 1887, era muito curta. Sabendo que seria representada, o autor aumentou o texto. A estreia aconteceu em Moscou no Teatro Korch, com V. Davydov, ator então de reconhecido talento no papel principal.

Anton Tchekhov nasceu na Ucrânia, filho de família humilde; seu avô foi servo da gleba e seu pai era um pequeno comerciante. Com sacrifícios realizou estudos secundários e fez faculdade de Medicina de Moscou. A profissão de médico lhe proporcionou conhecimento da vida e do ser humano, e o sucesso imediato de seus primeiros contos - aliada à recepção de sua obra, especialmente peças teatrais de aceitação pública - permitiram que ele vivesse de sua produção literária. Em 1898, casou-se com uma atriz do teatro russo e, em 1904, atacado pela tuberculose, morreu aos 44 anos na Alemanha.

Ficou conhecido como dramaturgo e contista. Com uma visão de mundo ora humorística, ora poética, ora dramática, Tchekhov captou momentos ocasionais da realidade, fatias de vida, pequenos flagrantes do cotidiano, estados de espírito da gente comum. No conjunto (incluindo-se até mesmo as histórias cômicas), a obra de Tchekhov é profundamente melancólica. Seus contos breves revolucionaram as formas narrativas da época e propiciaram modelos para a prosa do século XX. Criou, assim, uma nova forma de escrever contos: um mínimo de enredo e o máximo de emoção.  Escreveu dramas e comédias que se consagram nos palcos do mundo e estabeleceram padrões para a dramaturgia contemporânea. A genialidade de sua arte está em transformar uma série de incidentes laterais e de pormenores aparentemente insignificantes da existência individual em representações perfeitas do destino humano.

José Henrique
Mestre em Teatro e Bacharel em Artes Cênicas, habilitação Direção Teatral, pela Escola de Teatro da Universidade do Rio de Janeiro – UNIRIO. Diretor teatral e professor do Curso de Direção Teatral da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, desde 1994, onde leciona as disciplinas de “Direção” e “Iluminação Cênica”.

Dirigiu montagens de teatro adulto, dentre as quais “A Pane”, de Friedrich Dürrenmatt e “A Mandrágora”, de Maquiavel, além de diversos espetáculos de teatro infantil, ópera e leituras dramatizadas. Em 1998, dirigiu nos Estados Unidos a tragédia “Ifigênia em Áulis”, de Eurípides. É membro, desde 1996, do United States Institute for Theatre Technology (USITT/EUA) e da Association for Theatre in Higher Education (ATHE/EUA).

É responsável desde a sua origem, em 1999, pela direção e curadoria das montagens do Teatro na Justiça: “Testemunha de Acusação”, de Agatha Christie; “Doze Jurados e uma Sentença”, de Reginald Rose; “O Vento será sua Herança”, de Jerome Lawrence e Robert E. Lee; “O Caso Alma”, de Terence Rattingan, “A Pane”; de Friedrich Dürrenmatt e “O Processo”, de Franz Kafka e “Oréstia” de Ésquilo.

Em junho de 2007, convidado pela Cia Limite 15, dirigiu “As Eruditas” de Molière, com tradução de Millôr Fernandes. Em 2008, dirigiu “O Processo” no Maison de France e, em 2009, “O Especulador” de Honoré de Balzac no Teatro SESI. Em 2011 dirigi a comédia “O Olho Azul da Falecida” de Joe Orton no Teatro GEO em São Paulo

Ednei Giovenazzi
Nasceu no interior de São Paulo, foi para a Capital, onde se formou em Odontologia. Desde cedo, porém, percebeu seus dotes artísticos, e ainda que exercendo sua profissão, fez amizade entre artistas da televisão e participou, em 1967, de três novelas da TV Tupi: “Yoshiro, um Poema de Amor”; “Jardineiro Espanhol”; “O Pequeno Lorde”.

Em 1968, foi para a TV Globo onde fez “O Santo Mestiço”; “A Cabana do Pai Tomás”; “A Grande Mentira”; “Pigmaleão 70”; “A Próxima Atração”; “O Homem que deve Morrer; “Selva de Pedra”; “Ossos de Barão”.Aos poucos foi se afastando da profissão de dentista. De volta a São Paulo, atuou em outras novelas da TV Tupi: “A Barba-Azul”; “Ovelha Negra”; “Xeque-Mate”; “O Julgamento”; “Salário Mínimo”.

Em 1980, Giovenazzi fez a novela “Pé de Vento”, na Bandeirantes. Em seguida, voltou para a Globo do Rio, onde participou de: “As Três Marias”; “Sétimo Sentido”; “Partido Alto; “Livre para Voar”; “O Tempo e o Vento”; “Direito de Amar”; “Abolição”; “Que Rei sou Eu?; “Felicidade”, “Tropicaliente” e, em 2002 fez “Sabor de Paixão”. No cinema, participou do filme “A República dos Anjos”.
Bastante atuante no teatro, Edney encenou, dentre outras, “O Mercado de Veneza” (1993), “Frankenstein” (1994), “O Tartufo” (2002); “A Visita da Velha Senhora” (2003); “Molly Sweeney – um Rastro de Luz” (2006).

Afastado da televisão desde 2002, quando atuou na novela “Sabor da Paixão”, retornou em 2008 na minissérie “Queridos Amigos”, de Maria Adelaide Amaral, na Rede Globo.Em 2009, voltou aos palcos em uma participação especial na peça “Mary Stuart” com grande elenco. No mesmo ano foi contratado pelo SBT para participar do remake da novela “Uma Rosa com Amor”, que estreou em março de 2010.

Em 2011, Edney Giovenazzi volta aos palcos com a peça “A Agonia do Rei”, onde vive o rei casado com a rainha Clarisse, interpretada por Nathalia Dill. A “A Agonia do Rei", dirigida por Dudu Sandroni, marca os 55 anos de carreira, 80 de idade e 39 espetáculos profissionais de Edney Giovenazzi.

PARA ROTEIRO
O Canto do Cisne - Estreia dia 13 de setembro, sexta-feira, às 21h, no Teatro Eva Herz.
Direção Geral: José Henrique. Cenários e Figurinos: Samuel Abrantes. Iluminação: Rogério Wiltgen. Programação Visual: Sydney Michellete. Fotos:Guga Melgar. Produção Executiva: Valéria Meirelles. Direção de Produção: Guilherme Palmeira. Elenco: Ednei Giovenazzi. Pietro Mario. (Contra-Regra).Realização: Ednei Giovenazzi e Júpiter Teatro Produções. Temporada: sextas e sábados às 21h; domingos às 19h. Até dia 6 de outubro.
Teatro Eva Herz da Livraria Cultura - Conjunto Nacional - Avenida Paulista, 2073, Metrô Consolação. Bilheteria: (11) 3170-4059. De segunda a sábado, das 14 às 21 horas e aos domingos e feriados, das 12 às 20 horas. Ingressos à venda pela Internet: www.teatroevaherz.com.br ou www.ingresso.com.brVendas/Call-center:4003-2330. Compras pelo sistema da ingresso.com, funciona da seguinte maneiraCall-center: (adicional de 20%). Internet: (adicional de 15%). Os ingressos são retirados na bilheteria do próprio teatro. Formas de pagamento: dinheiro e todos os cartões de débito e crédito – não aceita cheque. Capacidade do teatro: 166 lugares.Classificação: 10 anos. Duração: 60 minutos. Ingressos: Sextas-feiras: R$40,00; Sábados e domingos: R$50,00. No dia 15 de setembro a sessão será gratuita.
ARTEPLURAL – Assessoria de imprensa
Fernanda Teixeira - 11. 3885-3671/ 9948-5355
Adriana Balsanelli – (11) 9245-4138
Renato Fernandes – (11) 7286-6703

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