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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Estreia em São Paulo peça baseada em obra de Josué de Castro

                                                                     Foto: Alicia Peres


Cia Duas de Criação e Coletivo Cênico Joanas Incendeiam apresentam

“Homens e Caranguejos”

Com uma história tocante, cômica e contundente, o espetáculo analisa o fenômeno social da miséria e da fome em todas as suas contradições e consequências.

 Inspirada no romance homônimo de Josué de Castro, a peça estreia no dia 26 de maio e abre a “Semana Homens e Caranguejos”. Durante cinco dias o público entrará em contato com todo o processo de criação do espetáculo, workshops e mesa redonda de discussão sobre a construção da dramaturgia e da encenação da peça.
Entrada gratuita

Dois grupos, múltiplas vozes e um tema: a fome. A Cia Duas de Criação, dirigida por Luciana Lyra em parceria com Viviane Madu, juntou-se ao Coletivo Cênico Joanas Incendeiam, composto pelas atrizes Beatriz Marsiglia, Camila Andrade, Juliana Mado e Letícia Leonardi, para realizar a montagem do espetáculo inédito Homens e Caranguejos, baseado no único romance do geógrafo pernambucano Josué de Castro, um estudioso de múltiplos saberes que lutou pela construção da democracia social no Brasil.

Escrito em 1966, o romance foi traduzido em várias línguas, e já foi adaptado para o teatro pela francesa Gabriele Cousin em 1969, mas nunca foi encenado e nem outra dramaturgia foi produzida em âmbito nacional, especialmente criando interfaces do texto romanceado com a realidade de comunidades existentes no Brasil contemporâneo, como é o caso desta montagem. Nesta versão teatral de Homens e Caranguejos, com dramaturgia e encenação de Luciana Lyra, a ideia não é a transposição literal do romance, mas a criação de fricções entre o universo criado por Josué e o cotidiano de duas comunidades brasileiras: a Ilha de Deus, em Recife e o Boqueirão, em São Paulo, que foram pesquisadas durante dois anos pelas atrizes-criadoras.

A trama do espetáculo gira em torno de um Menino, que chegou à cidade e aos mangues com seu Pai, fugindo da seca, depois da morte do irmão mais velho. Sua vida se divide entre trabalhar para o Padre, como catador de caranguejos, a vontade de brincar e a amizade com Cosme, um homem sábio que vive no seu mocambo com suas pernas imóveis. Cosme vê a Aldeia dos Demais, comunidade ficcional onde moram, através dos reflexos num pedaço de espelho e o mundo através dos jornais velhos do Menino. É Cosme quem fomenta no Menino certa consciência política e instiga a lutar contra o Rei Dom Agamenon pelo direito às terras da Aldeia. Atravessando o labirinto de mocambos a revolucionar, o Menino tem encontros encantados com a misteriosa negra Idalina e brinca com a morte, é o próprio Ícaro a sonhar com dias melhores.

O espetáculo Homens e Caranguejos vem sendo apoiado pelo ProAC, da Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo e estreará no dia 26 de maio, em São Paulo, dentro da Semana Homens e Caranguejos, onde, durante cinco dias, o público entrará em contato com todo o processo de criação do espetáculo, workshops e mesa redonda de discussão sobre a construção da dramaturgia e da encenação de “Homens e caranguejos”.

Homens e Caranguejos - Cenário e figurinos

O espaço cenográfico e a Indumentária em Homens e Caranguejos toma como inspiração as produções plásticas do carioca Hélio Oiticica, que faz de sua experiência nos morros e favelas do Rio de Janeiro parte da dimensão da sua obra. No tocante ao cenário, Homens e Caranguejos acontece numa espécie de conjunto de Penetráveis, termo utilizado por Oiticica para o que é chamado de "instalação" na arte contemporânea. É um espaço em forma de labirinto no qual o espectador entra e, nele, passa por experiências sensoriais referentes ao tato, olfato e audição, além da experiência visual. No contexto de Homens e Caranguejos, este conjunto de penetráveis remete ao conjunto de barracos (mocambos) do romance de Josué de Castro. Cada casa cenográfica, neste universo, é única na sua própria cor e formato, criando uma conjunção rizomática e labiríntica, sem um tom uniforme, construído a partir de fragmentos de diversos materiais, formando uma “colcha de retalhos” de diferentes texturas. Este grande penetrável dramático possui mobilidade e esta manipulação dá-se pelas atrizes a cada movimento do espetáculo.

Como preparação corporal e aproximação ao universo pernambucano, as meninas realizaram oficina de Cavalo Marinho com a Cia. Mundu Rodá de Teatro Físico e Dança (Condado-PE). Também realizaram treinamento musical com o Mestre Nico, do Maracatu Rural Cruzeiro do Forte. Tanto o treinamento musical, quanto o treinamento corporal com Cavalo Marinho foram pesquisas constantes deste projeto.

Além desses treinamentos, diversas pesquisas teóricas relacionadas à temática do espetáculo foram realizadas, tais como: a filmografia do cineasta Glauber Rocha, a obra do artista plástico Hélio Oiticica, do músico e pensador Chico Science, dos autores Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Junior, Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro.


FICHA TÉCNICA

Encenação, Direção e Dramaturgia: Luciana Lyra
Assistente de Direção e Dramaturgia: Mariana Souto Mayor
Atrizes-criadoras: Beatriz Marsiglia // Camila Andrade // Juliana Mado // Letícia Leonardi
Espaço Cenográfico e Design Gráfico: Vânia Medeiros
Direção Musical: Nilton Jr.
Indumentária: Ofélia Lott
Desenho e operação de luz: Silvestre J. R e Carol Autran
Preparação Corporal: Viviane Madu
Preparação Musical: Mestre Nico
Preparação Vocal: Bel Borges
DJ/Músico: Paulo Cesar Tó
Produção Musical: Buguinha Dub e Paulo Cesar Tó
Produção Videográfica e Operação de Vídeo: Rafaela Penteado
Fotografia: Alicia Peres
Estagiária em Artes Cênicas: Doralice Odília
Produção e Realização: Cia. Duas de criação e Coletivo Cênico Joanas Incendeiam

Assessoria de Imprensa: Moretti Cultura e Comunicação



SERVIÇO
O que: Homens e Caranguejos

Onde: Teatro Reynúncio Lima – UNESP

Endereço: Rua Dr Bento Teobaldo Ferraz, 271 – Barra Funda - Tel: (11) 3393-8546

De 26 a 30 de maio – (O espetáculo será apresentado apenas dias 26 e 27 de maio, às 18h30, para as demais atividades vide programação, datas e horários abaixo)

Entrada Gratuita - Capacidade: 200 Lugares

Duração: 70 min – Classificação etária: 10 anos


PROGRAMAÇÃO DA SEMANA “HOMENS E CARANGUEJOS”
DE 26 A 30 DE MAIO DE 2012

- Dias 26 e 27 de maio de 2012 (18:30h)
Apresentação do espetáculo 'Homens e Caranguejos'

-Dia 28 de maio de 2012 (19-21h)
Workshop sobre a pesquisa musical do espetáculo 'Homens e Caranguejos'
Orientação: Bel Borges (preparadora vocal) e Mestre Nico (preparador musical)
Presença das atrizes do Coletivo cênico Joanas Incendeiam e da diretora/dramaturga Luciana Lyra (Cia. Duas de Criação)

- Dia 29 de maio de 2012 (19-21h)
Workshop sobre pesquisa corporal do espetáculo 'Homens e Caranguejos'
Orientação: Viviane Madu (preparadora corporal)
Presença das atrizes do Coletivo cênico Joanas Incendeiam e da diretora/dramaturga Luciana Lyra (Cia. Duas de Criação)

- Dia 30 de maio de 2012 (19-21h)
Mesa redonda de discussão sobre o processo de criação do espetáculo 'Homens e Caranguejos', com ênfase no debate sobre o conceito de 'Artetnografia', cunhado pela dramaturga e diretora Luciana Lyra, e que se traduz enquanto experiência das atrizes-pesquisadoras nas comunidades do Boqueirão-SP e Ilha de Deus-PE no fomento à elaboração da cena. A mesa será composta por Luciana Lyra (pós doutoranda em Antropologia/USP), pelos Profs. Drs. Marianna Monteiro (IA/UNESP) e John Dawsey (FFLCH/USP).

Homens e Caranguejos – Sobre o processo

Contemplada com o ProaC de Montagem Teatral em 2011, prêmio concedido pelo Governo do Estado de São Paulo (Secretaria do Estado da Cultura) para fomentar a arte e a discussão,  esta montagem chama a atenção para questões relacionadas à fome e às áreas de ocupação imprópria, por meio de uma imersão poética, estabelecendo uma inter-relação entre dois contextos urbanos diversos, quais sejam: a cidade de São Paulo e a cidade de Recife.

O ponto de partida desse projeto foi em 2010, e surgiu do embate criativo das artistas envolvidas com a força imagética e dramática do romance Homens e caranguejos, de Josué de Castro. Comungam deste embate e da criação deste espetáculo: a Cia. Duas de criação, fundada em 2005, que se destaca no cenário artístico nacional por sua pesquisa voltada ao intercâmbio entre os universos das manifestações populares e a investigação de mitos para a criação cênica e o Coletivo Cênico Joanas incendeiam, que se consolidou em 2009, fruto de antigas parcerias entre as integrantes, provenientes do curso de Artes Cênicas da UNESP-SP.

Quando as profissionais entraram em contato com a obra de Josué de Castro, em janeiro de 2010, foi impossível fechar os olhos à atualidade das questões por ele abordadas. Ambos os grupos, no trânsito Recife- São Paulo, conheceram histórias locais que reproduziam a vulnerabilidade da população denunciada por Josué. São Paulo, em suas periferias, revela-se uma extensão da migração nordestina, sendo que a rota: sertão - zona da mata – mangue recifense – periferia paulistana será metaforizada nesta montagem.

No processo de criação, duas abordagens nortearam a ação artística. São elas: a Mitodologia em Artes Cênicas - complexo de procedimentos de criação, que relaciona os mitos pessoais de cada artista ao tema-guia abordado no espetáculo, e a Artetnografia – expressão cunhada por Luciana Lyra em sua tese de doutoramento, que dá nome a um tipo de pesquisa de campo vinculada a estratégias antropológicas contemporâneas de atuação, em que a interação entre artistas e comunidade ou contexto de alteridade, dá-se de forma polifônica e subjetiva, no sentido da criação cênica.

 A primeira experiência Artetnográfica orientada por Luciana gerou o espetáculo Guerreiras (2009), com base na vivência com as mulheres de Tejucupapo, Zona da Mata de Pernambuco.Em Homens e Caranguejos, a Artetnografia foi realizada nas comunidades da Ilha de Deus, em Recife e do Boqueirão, em São Paulo, compondo também parte de sua pesquisa de pós-doutoramento em Antropologia pela Universidade de São Paulo. O espetáculo também toma parte das pesquisas do Grupo Terreiro de Investigações Cênicas (IA/UNESP) e do Grupo NAPEDRA (USP).

A história de um menino pobre abrindo os olhos para o espetáculo do mundo, será colocada à frente das realidades das comunidades pesquisadas e das atrizes, todos sujeitos produtores destas dramaturgia e encenação. Essa interlocução-tríade será responsável por fomentar uma paisagem que é, toda ela, um braço de mar, do rio Capibaribe-PE ou mesmo do rio Tamanduateí-SP, seus afluentes, que banham histórias de miséria, força, alegria e artifícios pela manutenção da vida.


IMPRENSA // André Moretti

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