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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Grupo Gattu mergulha no universo feminino com Doroteia, de Nelson Rodrigues, em temporada no Mube

Com uma linguagem contemporânea e dinâmica, a companhia faz sua leitura da peça censurada em 1949, mesclando sensualidade, suspense e humor. Na montagem, música clássica, luz cinematográfica e técnicas circenses. Pesquisadores da obra rodrigueana, em 2010 foi o grupo que mais montou Nelson Rodrigues. A diretora EloísaVitz prepara, ainda para este ano, outro espetáculo do repertório do mais controverso dramaturgo brasileiro.
Desde 2001 no cenário do teatro brasileiro com suas leituras contemporâneas para textos clássicos, o Grupo Gattu reestreia Doroteia, de Nelson Rodrigues (1912-1980), dia 17 de fevereiro, quinta, às 21 horas, no Mube, Museu Brasileiro da Escultura. Com direção de Eloísa Vitz, a montagem - da peça mais controversa de Nelson Rodrigues - inova com diálogos rápidos, movimentos cinematográficos, atores ágeis e um narrador, que, em determinados momentos, entra em cena para conduzir a história com pitadas de humor. No elenco, além da diretora, estão Daniela Rocha Rosa, Diogo Pasquim, Elam Lima, Laura Knoll, Laura Vidotto, Marcos De Vuonno, Marcos Machado e Miriam Jardim.



Em 2010, o Gattu montou também Boca de Ouro e Viúva Porém Honesta, sendo o grupo que mais esteve em cartaz com textos de Nelson Rodrigues no ano passado. A companhia pesquisa sua obra há 4 anos e prepara, ainda para este ano, a montagem de mais um texto do dramaturgo.


O Gattu já encenou 11 peças e realizou 18 temporadas (veja perfil da companhia abaixo). Trabalha com pesquisa de linguagem teatral, imprimindo uma leitura cênica dinâmica, estética marcante e humor inteligente. O grupo tem sede no Teatro Gil Vicente, instalado na Uniban, na avenida Rudge, 315, Campos Elíseos, no centro da cidade de São Paulo. Informações.Tel.: (11) 3618-9014.


Além da proposta de trabalhar com temas da cultura nacional ("costumamos montar textos de autores nacionais, obras de fundamental importância para nossa cultura, como Jorge Andrade e Artur Azevedo"), o Grupo Gattu pretende formar um público jovem de teatro, não habituado a frequentar esta forma de expressão artística e favorecer o acesso a qualquer classe social. Para tanto, investe em produção elaborada, excelência artística e linguagem cênica divertida.


Em março, a trupe apresenta a peça Boca de Ouro - tragédia carioca em três atos, escrita por Nelson Rodrigues em 1959, montada pela primeira vez em 1960, com o diretor polonês Ziembinski no papel-título - no Festival Ibero-Americano de Teatro de São Paulo. A sessão acontece no dia 20 de março, no Memorial da América Latina.


“Montamos textos clássicos com uma linguagem contemporânea, porque sentimos a necessidade de iniciar o público que nos assiste,” explica Eloísa. “Acreditamos muito na inteligência do espectador, que tem interesse em assistir a peças de qualidade, independente de ser um texto contemporâneo ou não,” completa.


Segundo a diretora Eloísa Vitz, a paixão por Nelson Rodrigues surgiu naturalmente. “Nós não programamos, simplesmente não conseguimos largá-lo. E cada vez mais a obra do Nelson nos instiga, comove, perturba e desafia”, afirma.




Doroteia é uma linda mulher que, após perder o filho, decide abandonar a vida de prostituição e alcançar a redenção na casa de três primas. As três mulheres abominam a ideia da entrega amorosa e vivem uma vida casta e cheia de privações. Para aceitar Doroteia, impõem-lhe uma condição: ficar feia. O enredo, meramente fantasioso à primeira vista, mescla as múltiplas facetas do ser humano, capaz de surpreender, encantar ou chocar.


“Em Doroteia abordamos o universo feminino. Criamos o que chamamos da poética da feiúra. O espetáculo mescla sensualidade, suspense e humor. Combinamos uma luz cinematográfica com técnicas circenses. O cenário possui poucos elementos, que flutuam criando uma atmosfera para onde convergem o sonho e a realidade”, conta a diretora.


A iluminação é responsável pelas mudanças de tempo, atmosfera e humor do espetáculo. A luz, quase sempre indireta, forma sombras e as cores também contribuem para o clima das cenas. A trilha sonora, executada ao vivo, utiliza obras dos compositores clássicos Mozart (1756-1791) e Jean Sibelius (1865-1957). “O primeiro nos remete ao que é sublime, a delicadeza das harmonias, a sensualidade e encanto imediato. Sibelius, a tudo que é trágico, os grandes abismos e as mudanças abruptas”, explica Eloísa.


Escrita em 1949, Doroteia foi alvo de inúmeras críticas, sendo considerada um fracasso de público para aquela época. O próprio autor a definiu como parte de sua obra chamada de “teatro do desagradável”. Atualmente, porém, a discussão profunda de Nelson Rodrigues sobre a sexualidade humana e a repressão fazem de Doroteia um clássico da dramaturgia brasileira moderna. Para muitos, é simplesmente a peça mais genial do autor.









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