“Uma
peça ousada, com uma visão irreverente de Deus como boneco narcisista. O
Anticristo é uma menina, Hanna, e seu calvário tem a ver com o consumismo e com
a estupidificação da religião, com o esvaziamento de sentido da vida
contemporânea. Brunno comete erros de quem está aprendendo. (...) Mas tem uma
imaginação poderosa. E uma boa capacidade de criar metáforas. Ele está no
começo do caminho. E promete. Em plena geração pós-MTV, movida a shopping e a
seriado americano, Brunno lê Sartre, lê Artaud. Na minha pós-adolescência isso
era normal. Hoje é exceção das mais excessivas”
Alberto Guzik
(1944-2010), crítico teatral no blog “Os dias e as horas”, referindo-se ao
último texto de Brunno Almeida Maia, “O Anticristo”, escrito aos 18 anos.
Enquanto
a produção literária dos dias atuais adentra, cada vez mais, universos de
extrema distinção entre si, é fato que os novos produtores precisam de algo
mais para alcançar triunfo no mercado editorial. Para tal missão, Brunno
Almeida Maia revira hábitos e instituições da vida contemporânea de forma
inteligente e ágil em publicação da Giostri
Editora, que será lançada próximo dia 18
de janeiro (sábado), das 16h30 às
19h30, no Espaço dos Parlapatões. Por
sua vez, a editora é reconhecida na área da dramaturgia por publicar novos e
consagrados autores, como Lauro César Muniz, Consuelo de Castro, Hugo Possolo,
Gero Camilo e Ivam Cabral.
“O Teatro de Brunno Almeida Maia”, do jovem dramaturgo paulistano, traz uma coletânea de sua
recente produção em duas peças: “Tristes
Lembranças” e “IMUNO”. As obras sintetizam a relação do autor com o
universo da filosofia, da moda, da cultura pop, das questões políticas e
sociais de nosso tempo, com temáticas transitando nos campos da
biovirtualidade, controle do corpo, distopias, transexualidade, medéia revisitada,
homofobia internalizada, novas morais religiosas e a idealização de paraísos
artificiais.
A
ambientação proposta pelo autor traz o embate entre a questão do corpo e a
presença dos desígnios divinos, do destino e das consequências dos atos à pele
de personagens arquetípicas e mitológicas. A utilização de referências
longínquas misturam-se a cultura pop e o cinismo dos
tempos
modernos, carregados do confronto constante entre a busca pela satisfação e a
auto-repressão, colocada aqui como “assassina” dos homens.
Como
no desejo dos escritores surrealistas no início do século XX, tais como André
Breton em seu romance “Nadja”, os personagens de Brunno Almeida Maia desfilam
nos reinos imaginários, nas metrópoles ou nos cenários idílicos e bucólicos,
indagando os homens como nos tempos da Esfinge e do provoca-te a ti mesmo:
“Decifra-me ou devoro-te”.
TRISTES LEMBRANÇAS
Inspirada
em um noticiário verídico da BBC de Londres (grupo cria rede social para
mortos), “Tristes Lembranças” narra a história de um escritor e a sua obsessão
para revelar as tramas e os complexos da vida em um texto escrito com o próprio
corpo. Dionísio é um jovem brasileiro que sempre sonhou em fazer uma
“revolução”. Na escola, monta um grupo de teatro que ajuda na descoberta e no
despertar dos jovens. Morre misteriosamente aos 45 anos de idade, com uma
carreira de escritor fracassado. A peça inicia a sua narrativa no dia do velório
do protagonista. Ana, a sua mãe, conta para o jornalista Augusto a história do
filho, do nascimento até o desaparecimento, nos braços de um rapaz vestido de
São Sebastião, durante uma alegoria religiosa no nordeste brasileiro.
Único
que se interessa pelas particularidades do crime: um escritor morre amarrado a
um texto chamado, “Tristes Lembranças”, a trama mostra a obstinação de Augusto
em desvendar o caso, confundindo-o com a entrada de um grupo de hackers e a sua
nova invenção para a tecnologia: uma rede social para os mortos.
Antes
da morte, Dionísio participa como cobaia da rede social. Recuperando o trágico
desfecho de Dionísio e o espetáculo da sociedade da rede social, Augusto transforma
em 48 horas o escritor (morto-vivo) em um mito carnavalesco, que participa de
reality shows, programas de TV, entrevistas e desfile de escola de samba. Augusto aluga um teatro, para representar com
Dionísio-Morto a peça que nunca fora encenada, “Tristes Lembranças”. Texto
escrito antes de sua morte narra a sua vida, seus medos e um destino calculado para
tornar-se um anti-herói. O que Dionisio descobre nesta encenação – uma vez que
a última cena ele deixou em branco – é um improvável desejo e uma paixão
obsessiva que une as duas personagens: não separar a vida da arte, mas trazer a
vida para a arte, escrevendo com o próprio corpo, um possível texto.
Em
sua última revelação no teatro, com a presença de todas as personagens da peça
como espectadoras, Augusto ridiculariza a metalinguagem – metateatro -
mostrando que a transformação do corpo, a vida “real” em virtual – no além-vida
– e o errático sonho de nossos tempos, de tornar-se aquilo que se deseja,
desembocam em novas questões jurídicas, filosóficas, políticas e, sobretudo, da
corporeidade. Afinal, o que pode o corpo? Ao narrar um hipotético futuro, com
estética de romance policial e filmes noir, a preocupação com a condição
humana, ou, em outras palavras, “O que estamos fazendo de nós mesmos?”.
IMUNO
Obra que se aproxima da
performance, da dança-teatro e do teatro abordado por Antonin Artaud em seu “O
Teatro e seu duplo”, “IMUNO” é a última parte de uma trilogia do autor, que
inclui “The Dark Room” e o “O Anticristo”
(encenadas, respectivamente em 2004 e 2006, e não publicadas em livro).
A história se inicia na década de 50, no
pós-guerra, com o seu desejo de progresso, modernidade e avanço, pautado por
uma ciência positivista. Nasce uma jovem chamada Pandora, fruto de uma relação
proibida entre um Padre e uma Freira da igreja Católica. Concebida nos porões
da Santa Sé, onde as freiras grávidas deixavam os seus fetos abortados, Pandora
torna-se uma testemunha e sobrevivente. A narrativa se passa em um reino
imaginário, Marek, contextualizando a passagem da figura do soberano, da peste
e do corpo disciplinar do século XVI - conceitos do filósofo francês Michel
Foucault - para a soberania contemporânea da Biopolitica ou política da vida.
Fruto de sua geração, Pandora vive todos os
ideários da década de 60 e 70, mas sente um desejo em retornar às suas origens
e esclarecer a gênese de sua história. Ao voltar ao Reino de Marek, na mesma
época em que o Rei tem alucinações com a chegada de uma peste que vai dizimar o
seu reinado, um cientista testa novas formas de controle da população. Com ares
de distopia apocalíptica, Pandora chega no momento em que o Reino perde a sua
força política, com os jovens nas ruas sonhando o Maio de 1968. Em uma farsa
épica e agindo como uma anti-heroína para o seu tempo, Pandora se coloca à
disposição do Rei de Marek para ser a cobaia de um novo vírus, capaz de dizimar
toda uma população, seus sonhos e símbolos.
Passando pelas décadas de 60´s, 70´s, 80´s, e
finalmente, a queda do muro de Berlim, o dramaturgo propõe as seguintes
reflexões: “Se houve uma descontinuidade entre o nosso tempo e o pensamento e a
estética do regime nazifascista, somos herdeiros de quais medos e desconfianças?”
“É possível imaginarmos que um delírio coletivo de libertação descortine um
apoderamento, envergonhamento e despersonalização do corpo e das multidões
abjetas?”.
FICHA
TÉCNICA:
“O
Teatro de Brunno Almeida Maia”
De Brunno Almeida Maia
Giostri Editora
Ano: 2014
1ª Edição
Páginas:
195
ISBN: 978-85-8108-326-1
Valor
sugerido: R$
40,00
SERVIÇO
Lançamento ”O Teatro de Brunno Almeida Maia”
Dia: 18 de janeiro de 2014
(Sábado)
Horário: Das 16h30 às 19h30
Local: Espaço dos Parlapatões –
Praça Roosevelt, 158, Centro, São Paulo – SP.
Tel.: (11) 3258-4449
BRUNNO
ALMEIDA MAIA nasceu
na cidade de São Paulo, em 25 de janeiro de 1987. Filho da “geração pós-MTV” -
como o definiu Alberto Guzik - transita pelas linguagens híbridas e nômades.
Como estudante de Filosofia pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo),
dedica-se à pesquisa sobre o autor francês Georges Bataille (1897-1962); ao
estudo de gênero, sexualidade e diferenças no grupo INANNA da PUC-SP, e
ministra aulas sobre a relação entre a literatura e a moda, ao lado do
estilista brasileiro Walter Rodrigues. Autor de “Cale-se Para Sempre” encenado
em 2005 e “The Dark Room” (2002 e 2003), coordenou durante os anos de 2002 a
2007, o Espaço Cultural Alberto Levy (ECAL), em SP. Colaborou para veículos -
colunista e produtor de moda - como o Portal BRRUN, Revistas Contigo, IstoÉ Gente
e Lounge, e o extinto Jornal da Tarde (JT). “O Teatro de Brunno Almeida Maia”
(Editora Giostri, 2013) é o seu primeiro livro publicado.
Baobá
Comunicação, Cultura e Conteúdo
Pedro Sant´Anna – pedro@baobacomunicacao.com.br
Rua
Porangaba, nº 149, Bosque da Saúde
04136-020
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